Home >> Há 90 Anos >> Jornal se transforma ante inúmeras exigências de uma economia globalizada
José Costa recorre a Guy de Almeida para reformulações editoriais
Por: Sandra Carvalho Em 27 de setembro de 2022
As transformações macroeconômicas no Brasil nos anos de 1990 impactaram de várias formas o DIÁRIO DO COMÉRCIO. Uma realidade mais complexa a partir da globalização e da adoção de uma agenda neoliberal no País impôs mudanças à cobertura jornalística. Já a alteração na política cambial, sobretudo no ano de 1999, e a elevação das taxas de juros ao longo da década afetaram os custos da maior parte das empresas, inclusive do DC.
Três mortes na diretoria do jornal em um curto espaço de tempo foram um baque na publicação. Naquela época, o jornal passou da marca dos 60 anos de existência e já havia se consolidado como o mais importante veículo de cobertura econômica em Minas Gerais.
As informações a seguir são baseadas no livro “José Costa – Parceiro do Futuro”, de autoria de Lígia Maria Leite Pereira, Maria Auxiliadora de Faria e Nair Costa Muls, lançado em 2007, pela Rona Editora; e também em entrevistas com o presidente Conselho Gestor do jornal, Luiz Carlos Motta Costa.
As mudanças no DC se impuseram já em 1991, quando José Costa e equipe começaram a sentir as implicações, na economia mineira, da abertura econômica e das privatizações, promovidas inicialmente pelo governo de Fernando Collor de Mello. Havia necessidade de modernização no noticiário. Para confirmar essa impressão, decidiram ouvir leitores e empresários mineiros por meio de uma pesquisa. “O fundamental para nós naquele momento era conhecer melhor nossos leitores e saber o que esperavam do jornal”, informou Luiz Carlos, que era diretor de Redação nos anos de 1990 e acompanhou esse processo.
A pesquisa apontou para a necessidade de um jornalismo ainda mais analítico e interpretativo. O então presidente e fundador do DC, José Costa, recorreu mais uma vez a um velho amigo, um respeitado jornalista que fez escola e revolucionou a imprensa mineira. Trata-se de Guy de Almeida, que vinha de uma longa estada no ambiente político de Brasília e também acumulava, entre outras experiências, uma importante passagem como coordenador editorial do DIÁRIO DO COMÉRCIO e do Jornal de Casa nos anos de 1970.
“Buscamos aprofundar ainda mais, ir bem além do tradicional ‘aconteceu ontem’. Já vínhamos nesse processo desde os anos de 1970, com contextualização e análise da notícia, priorizando fontes qualificadas e isenção nas coberturas. Mas era preciso ampliar ainda mais a análise, apresentando o fato sob inúmeras perspectivas. A volta do Guy foi um marco nessa transformação, e a década de 1990 foi um período muito rico de acontecimentos para isso, principalmente com os planos econômicos do Collor e o Plano Real”, relembrou Luiz Carlos.
Entre as mudanças implementadas por Guy de Almeida e Luiz Carlos, estavam reformulações editoriais e gráficas, com destaque para a página de Opinião. Houve uma maior participação de articulistas e colaboradores especializados nessa e nas páginas especializadas. Foi necessária uma requalificação da equipe de reportagem para a análise econômica dos novos tempos. A diagramação também ficou mais leve, moderna e atraente.
Entre as campanhas da década, destaque para os vários editoriais contra a elevada carga tributária e as altas taxas de juros. O apoio ao prêmio Minas Exporta continuou até o ano de 1994, em parceria com a Fundação Dom Cabral. Os leilões da Usiminas e da Açominas, bem como o comportamento da inflação face aos planos Collor e Real são exemplos de coberturas com ampla análise e profundidade nos anos de 1990.
Segundo Luiz Carlos, a apresentação da dinâmica da economia de uma forma mais didática ao leitor também pode ser destacada no período. Naquela época, a internet já era uma realidade nas redações e facilitou a apuração jornalística.
O fundador do DIÁRIO DO COMÉRCIO, José Costa, ficou 62 anos à frente do jornal. Durante essas seis décadas, ele viabilizou toda a evolução da publicação. Seu profundo envolvimento com entidades empresariais e também de trabalhadores tornou o DC um porta-voz de vários setores econômicos e um indutor do desenvolvimento de Minas Gerais. Mas, em outubro de 1994, por motivos de saúde, aos 88 anos, Costa precisou se afastar da publicação, passando a condução da empresa a seus sucessores, que já vinham sendo preparados anos antes.
Segundo o presidente do Conselho Gestor do jornal, Luiz Carlos Motta Costa, filho de José Costa e diretor de Redação à época, o plano sucessório estava sendo implementado em parceria com a Fundação Dom Cabral. “Foi tudo muito organizado e bem conduzido, identificando competências de cada membro da família que estava na empresa e dos funcionários”, informou.
Conforme previsto no plano de sucessão, o diretor-superintendente, Marcílio Gonçalves, genro de José Costa, assumiu a presidência do jornal em 1994. Em 1995, José Costa faleceu. “Papai não estava mais na presidência, mas era a alma do jornal. Foi um grande baque para todos nós”, disse Luiz Carlos.
Na presidência do DC, Marcílio Gonçalves manteve a condução do jornal norteada nos princípios de José Costa, baseados na conexão de agentes econômicos em prol do desenvolvimento de Minas. Ele ficou no cargo até 1998, quando também faleceu.
O diretor-industrial José Motta Costa, o Costinha, filho de José Costa, tornou-se então o presidente do DC. Mas Costinha foi acometido de um câncer e morreu meses depois. “Meu pai preparou minuciosamente o plano de sucessão, mas não imaginávamos que em um espaço de apenas três anos perderíamos três membros da família e da diretoria da empresa. Foi um baque para todos”, disse Luiz Carlos, que deixou a diretoria da redação para assumir a presidência do DC após a morte do irmão.
Luiz Carlos tomou as rédeas da empresa em um cenário econômico desafiador. Segundo ele, no final dos anos de 1990, mudanças na política cambial de 1999, que valorizaram rapidamente o dólar, elevaram os custos de insumos da empresa, principalmente do papel jornal, que praticamente dobrou naquele período. Naquela época, a empresa jornalística editava o semanário Jornal de Casa, de distribuição gratuita e tiragem na casa dos 120 mil exemplares. “Os custos de impressão dobraram do dia para a noite”, observou Luiz Carlos.
As altíssimas taxas de juros praticadas no Brasil para estimular a entrada de divisas também afetaram a saúde financeira da empresa. “Foi um período de esvaziamento econômico em Minas Gerais, pouco investimento, com grande baixa nas publicidades. Também havíamos contraído dívidas impactadas pelas elevadas taxas de juros. Enfim, uma crise desafiadora e duradoura. Entramos para o século 20 com esse desafio a vencer”, avaliou.
Foi na década de 1990 que o fundador e então presidente do DIÁRIO DO COMÉRCIO, José Costa, buscou realizar um antigo sonho: unir todas as classes produtoras de Minas Gerais. Costa, que transitava por todas as entidades e tornava seu jornal um porta-voz delas, queria juntar todas, formalmente, em uma única instituição. O objetivo era fortalecer o segmento para que as demandas fossem ouvidas pelo poder público.
“Como cada um pedia uma coisa diferente aos governantes e, na prática, ninguém conseguia nada, a ideia era, por meio dessa união, dar peso, força e relevância aos pedidos apresentados”, explicou Luiz Carlos Motta Costa.
Essa ideia surgiu a partir de uma experiência capitaneada pelo diretor de expansão e jornalista Deusdedith Aquino, que reuniu todas as demandas das entidades empresariais e setor produtivo em um só documento. “Na época, esse documento teve muita força e foi entregue por meu pai ao então governador de Minas, Hélio Garcia, na sede do jornal, e trazia demandas como obras públicas e medidas que favoreceriam o desenvolvimento econômico do Estado”, contou Luiz Carlos.
Para viabilizar a tal entidade, que reuniria todas as outras, José Costa contou mais uma vez com o apoio de Deusdedith Aquino. Sem conseguir entendimento sobre nomes para a diretoria, Costa acabou se tornando presidente da nova instituição. “Mas o projeto não foi para frente, uma vez que as entidades não se entrosaram e não fomentaram. Ele disse na época que era o único sonho que ele não realizaria em vida: unir as classes produtoras de Minas”, relembrou.
Para José Costa, só assim as entidades seriam fortes o suficiente para ser ouvidas e relembradas.
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