Home >> Há 90 Anos >> Desafios, superações e avanços no DC
Primeira década do século XX1 foi decisiva para a continuidade do trabalho iniciado por José Costa no DIÁRIO DO COMÉRCIO
Por: Sandra Carvalho Em 11 de outubro de 2022
Desafios e superação marcaram a história do DIÁRIO DO COMÉRCIO na primeira década dos anos 2000. O jornal se encontrava em uma situação complicada, de desequilíbrio econômico e financeiro desde o final dos anos de 1990, causada, entre outros fatores, por mudanças na política macroeconômica do País, que encareceram insumos e aumentaram o endividamento. Três mortes na diretoria no final da década anterior também contribuíram para essa fase difícil na empresa.
Apesar de começar nessas circunstâncias, os primeiros dez anos do novo milênio foram também um período de transformações. O DC começou a apostar na informação digital, avançou nos processos de produção e ampliou o debate, para além das páginas impressas, dos principais desafios de Minas Gerais.
Antes mesmo da virada para os anos 2000, uma ameaça preocupava todas as empresas informatizadas do planeta, e no jornal não foi diferente. O chamado “Bug do Milênio” foi pintado aos quatro cantos do mundo globalizado como algo realmente destruidor. O temor era de que sistemas produzidos no século 20 poderiam “bugar” ao reconhecer o ano 2000 como 1900, paralisando e corrompendo arquivos. O pavor de um desastre econômico causado por impactos nos sistemas financeiros era tanto que, nos Estados Unidos, tinha gente até mesmo estocando comida e guardando dinheiro em casa para a virada do milênio.
“Estávamos em uma fase muito difícil, buscando equilibrar as contas do jornal e ainda tinha aquele Bug do Milênio. Chegamos a receber a visita de especialistas, vendendo segurança contra a suposta ameaça. Cobraram algo em torno de R$ 300 mil à época, mais de R$ 1 milhão se corrigíssemos o valor para os dias atuais”, relatou Luiz Carlos Costa, presidente do DIÁRIO DO COMÉRCIO naquele período e hoje presidente do Conselho Gestor do jornal.
A solução partiu do próprio Luiz Carlos. “Como era um problema relacionado à data, a minha sugestão foi que atrasássemos o ‘relógio’ do sistema usado na época em mais de 50 anos. Os especialistas acharam aquilo elementar, absurdo e até um risco. Mas eu assumi aquele risco. Assim fizemos e nada aconteceu, como de fato não aconteceu no mundo todo. Mas foi importante porque não fizemos novas dívidas em razão daquele temor”, contou.
O apoio da economista Lúcia Costa, também filha do fundador, para a reorganização da empresa no momento de crise foi muito importante. “Ela veio do Rio de Janeiro em 1999 para ficar três meses, mas acabou ficando por três anos nesse processo de recuperação da empresa. Lúcia foi embora em agosto de 2001, quando, ainda muito jovem, eu assumi a área administrativa e financeira do DIÁRIO DO COMÉRCIO”, relatou o diretor-executivo do jornal, Yvan Muls, neto de José Costa.
Nessa época, segundo Muls, o jornal passou por uma situação dramática, com atrasos de salários, alta rotatividade de funcionários e até mesmo uma perda da confiança dos colaboradores. “Era um momento de voltar o olhar para dentro e fazer um resgate da confiança dos colaboradores. Foi constituído um comitê-gestor, com membros de todos os setores do jornal, com o propósito de reequilibrar e reconduzir empresarialmente o DIÁRIO DO COMÉRCIO”, informou.
No ano de 2004, um outro importante passo foi dado nesse sentido. Um perito foi designado pelo Ministério Público do Trabalho para acompanhar a empresa. “Como havia uma certa desconfiança por parte dos colaboradores em decorrência de salários atrasados e do desequilíbrio econômico e financeiro, a designação desse perito, com acompanhamento do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais e do comitê gestor, foi muito importante”.
A partir desse trabalho, conforme Yvan Muls, foi possível fazer um plano de recuperação com participação dos colaboradores (representados pelo sindicato) e do Ministério Público do Trabalho.
“Fizemos um grande acordo, que reuniu todos os processos trabalhistas existentes na 22ª Vara, algo inovador na Justiça do Trabalho. Esse acordo foi homologado em 2004 e concretizamos as parcelas desse trato ao longo dos anos. (…) Questões bancárias e com fornecedores também foram aos poucos equacionadas e fomos recuperando a confiança dos colaboradores e as condições mínimas operacionais. A última parcela do acordo foi paga em 2010. Zeramos as questões trabalhistas e de atrasos de salários (…) Foi um trabalho seríssimo e de muita consistência e muito importante para a empresa”, completou o diretor-executivo.
Como parte da reestruturação financeira da empresa, segundo Muls, foi necessário encerrar a edição do Jornal de Casa, semanário do grupo que circulou por mais de 20 anos.
A entrada do DIÁRIO DO COMÉRCIO na era da informação digital ocorreu de forma tímida no início da primeira década dos anos 2000. Aquela primeira página na internet foi feita com os recursos possíveis à época e com o esforço de funcionários dedicados.
“Era um site simples, uma página só com a lista de matérias, feito a partir de comandos de HTML, elaborado pelo diagramador Fábio Pompeu. Posteriormente, aprendi a trabalhar com um programa chamado DreamWeaver e reformulei o site já com outros recursos e mais páginas. Mais tarde, no ano de 2006, foi contratada uma empresa especializada, o que possibilitou mais modernidade e recursos mais ágeis e interativos”, informou o gerente industrial, Manoel Evandro.
Um outro avanço digital no período, conforme Evandro, foi a adoção da tecnologia CTP (computer to plate), ou seja, do computador direto para a chapa, o que eliminou o uso de fotolitos no processo de impressão. O fotolito é uma espécie de folha de acetato semelhante aos filmes fotográficos, sensível à luz, usada em processos químicos para gravar chapas de impressão.
“Usávamos muitos químicos e vários equipamentos no processo de revelação e montagem manual do fotolito, o que era trabalhoso. O funcionário que fazia esse trabalho tinha até um adicional de insalubridade no salário. Era um processo demorado, feito antes da gravação da chapa de impressão. Caso tivesse que fazer alguma alteração, tinha que jogar o fotolito daquela página fora e fazer tudo novamente”, relembrou.
Os fotolitos descartados eram repassados a uma empresa de reciclagem. “O uso do CTP agilizou o processo de gravação da chapa, permitiu à redação maior flexibilidade de alterações de última hora nas páginas e reduziu custos”, observou.
Enquanto tentava se reequilibrar financeiramente ao longo da primeira década dos anos 2000, o DIÁRIO DO COMÉRCIO também passou por reformulações editoriais. O editor Alexandre Horácio, que está no DC há mais de 30 anos, lembra que na época se chegou a tentar ampliar o conteúdo noticioso para outras áreas além da economia, como esportes e cultura. Porém, com um público mais ligado ao setor empresarial e ávido por notícias analíticas do setor econômico, a proposta não foi para frente.
“A partir de 2004, com a gestão da empresa mais reequilibrada, houve então uma retomada da linha editorial do jornal, que voltou a priorizar a cobertura econômica. Isso permitiu que o jornal voltasse àquela posição de jornal de economia regional, cobrindo os diversos setores produtivos, e mantivesse a credibilidade com seu público, mais voltado ao setor empresarial”, informou Horácio.
Outra iniciativa criada nessa época e que deu certo foi o caderno de Gestão e Negócios, que trazia informações sobre empreendedorismo, gestão de RH, enfim, dicas e diferenciais no dia a dia das empresas mineiras. A atual editora-executiva do DC, Luciana Montes, entrou para o jornal exatamente nessa época para trabalhar na seção sobre recursos humanos no dia a dia das empresas.
“A página teve uma ótima aceitação por parte das empresas mineiras (…). Lembro de uma série que fizemos e que fez muito sucesso na época que foi sobre iniciativas de gestão diferentes das empresas, como: o que eu faço e que está dando certo. Também teve uma ótima aceitação”, relembrou.
Já o atual chefe de reportagem, Rafael Tomaz, que na primeira década dos anos 2000 também era repórter do DC, lembra de uma cobertura que marcou. “Lembro de cobrir os impactos da crise internacional de 2008 nas empresas mineiras. Fizemos matérias de demissões em massa, empresas paralisando atividades e investimentos que não saíram do papel. Porém, já em 2009, após o governo federal adotar medidas que mitigaram os efeitos da crise, houve crescimento econômico e geração de emprego nos anos posteriores. Fizemos muitas matérias sobre a dificuldade de se encontrar mão de obra para atender à demanda”, lembrou Tomaz.
E já no período de retomada do DIÁRIO DO COMÉRCIO, no ano de 2006, o jornal comemorou o centenário de nascimento de seu fundador, o jornalista José Costa, com uma biografia dele. O livro “José Costa – Parceiro do Futuro”, de autoria de Lígia Maria Leite Pereira, Maria Auxiliadora de Faria e Nair Costa Muls, foi lançado pela Rona Editora.
“O livro aborda os marcos da história da vida de José Costa, a personalidade dele e a contribuição do jornal que ele criou para o desenvolvimento socioeconômico de Minas Gerais. A biografia resgata a visão empreendedora e à frente de seu tempo que José Costa tinha”, informou a presidente do DC, Adriana Costa Muls.
No ano seguinte, em 2007, o DIÁRIO DO COMÉRCIO lançou o Prêmio José Costa. “Assim como o livro, o prêmio também tinha o objetivo de resgatar os valores do empresário José Costa e de outras personalidades e lideranças que se juntaram a ele, pensando um projeto de futuro para o Estado. Tinha num primeiro momento o objetivo de resgatar esses valores, mas depois ele foi evoluindo, sendo atualizado para conceitos atuais. (…) “É um importante momento de reconhecimento de ações e iniciativas de pessoas, empresas e instituições que agem à frente do seu tempo, como fazia José Costa”, ressaltou a presidente do DC.
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