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Inovação e perseverança explicam longevidade do jornal que tem Minas Gerais como principal pauta desde 1932
Por: Sandra Carvalho Em 18 de outubro de 2022
Inovação, perseverança, relevância e resiliência são “palavras-chave” para explicar a longevidade do DIÁRIO DO COMÉRCIO, que completa 90 anos de circulação neste 18 de outubro. É uma longa vida de trabalho e estímulo ao desenvolvimento de Minas Gerais, numa trajetória de conquistas e momentos desafiadores. A batalha por um mundo mais justo e sustentável não é fácil e sempre esteve na pauta do dia do jornal. Para manter a tradição, além de comemorar, é preciso relembrar como um boletim de mercadorias se transformou no principal jornal de economia do Estado de Minas Gerais.
A trajetória, já contada inúmeras vezes em reportagens especiais, livro, lives e, recentemente, em podcasts, mais uma vez, será abordada nas páginas deste jornal. Não como mera repetição da história numa edição comemorativa de aniversário. Mas como fonte de inspiração e esperança para os que hoje empreendem um projeto de vida. A caminhada do DC será relembrada em um paralelo entre as campanhas do jornal e o desenvolvimento de Minas Gerais, a principal pauta do DC ao longo dessas nove décadas.
As informações a seguir são baseadas em livros, entrevistas com membros da família Costa e funcionários do jornal, historiadores econômicos, além de consultas a edições antigas, bastante acessadas para o projeto multimídia dos 90 anos.
Confira também as entrevistas em vídeo com a presidente do jornal, Adriana Costa Muls, com o diretor-executivo, Yvan Muls, e com o presidente do conselho-gestor, Luiz Carlos Motta Costa, no âmbito do especial “Quem fez História”, em que eles falam sobre passado, presente e futuro do DC.
O Informador Commercial nasceu em 18 de outubro de 1932, em um Brasil que importava quase tudo o que consumia e, por isso, ainda sofria os impactos do crash de 1929. Era mais que urgente desenvolver a indústria nacional, e a crise mundial com a queda da bolsa de Nova York (1929) deixou isso bem claro. O modelo desenvolvimentista era recomendado pelos organismos internacionais para reduzir a dependência dos países pobres em relação à importação de produtos industrializados dos países hegemônicos.
Comerciantes buscavam as mercadorias – quase tudo vindo do exterior – na estação ferroviária de Belo Horizonte, onde havia certa desorganização na informação a respeito do que chegava e era despachado. O jovem José Costa, um representante comercial que transitava pelo varejo da capital mineira, identificou esse gargalo e inovou. Para evitar que comerciantes “perdessem a viagem” ao ir atrás de seus produtos na estação e não encontrá-los, Costa decidiu fazer uma lista sobre tudo o que era descarregado dos trens.
O manifesto de mercadorias era publicado diariamente no boletim, mimeografado e distribuído aos assinantes no comércio de BH. No início, José Costa fazia praticamente tudo. Apurava as mercadorias, datilografava, mimeografava no escritório de um conhecido e distribuía a publicação.
Aos poucos, o boletim foi incorporando mais anúncios do varejo e ampliando a prestação de serviços como, por exemplo, a publicação sobre leis e resoluções (veja na linha do tempo abaixo e nas páginas seguintes). Já trazia comunicados de entidades de classe empresariais e de trabalhadores e artigos e colunas de colaboradores sobre a conjuntura econômica. Passou a expressar sua opinião em editorial a partir de 1935. Aos poucos novos parceiros foram chegando, assim como novas tecnologias para a impressão.
O nascedouro do DIÁRIO DO COMÉRCIO acontecia em uma Minas Gerais que lutava para voltar a ser protagonista da economia nacional, posto perdido desde o fim do ciclo do ouro. A riqueza agora estava no minério de ferro, que atraía os olhos do mundo. Nos “Comentários do dia”, na década de 1930, muitas foram as defesas do jornal para que o minério ficasse no Estado e que fossem exportados produtos, fabricados por meio do desenvolvimento do setor siderúrgico em Minas, que já se mostrava promissor com as operações da Belgo-Mineira (hoje ArcelorMittal) em Sabará, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Com uma vertente mais nacionalista, muitas foram as críticas do jornal, em sua primeira década de existência, ao projeto da Itabira Iron Ore Company, no sentido de que Minas não poderia continuar sendo mero exportador de produtos primários. Os recursos minerais deveriam ficar nas mãos de empresas nacionais e dar sustentação ao desenvolvimento da indústria do País. Nesse sentido, a criação da estatal Companhia Vale do Rio Doce (hoje Vale) foi comemorada.
Aliás, a indústria – de vários segmentos – sempre foi acompanhada nas páginas do ainda Informador Commercial, atento a cada novo empreendimento que surgia, numa época em que o Estado tinha poucas unidades fabris. E até os dias atuais, todo movimento no setor é acompanhado, desde a averiguação de um “boato” para a instalação de um novo empreendimento, passando pela formalização e start das operações e desdobramentos na cadeia produtiva.
As campanhas e bandeiras da publicação surgiam na maioria das vezes em debates promovidos por entidades de classe, como a União dos Varejistas do Estado de Minas Gerais (UVMG), a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), a Associação Comercial e Empresarial de Minas Gerais (ACMinas), a Sociedade Mineira de Engenharia (SME), entre outras. José Costa transitava por todas elas como um agregador de ideias e participava das discussões.
Entre as primeiras “campanhas” defendidas pelo jornal está a criação de um distrito industrial, algo que só foi concretizado em 1942, quando Juventino Dias fundou a Cidade Industrial em Contagem, na região metropolitana.
Mas como ter indústria sem energia elétrica de qualidade? Dessa forma, a melhor geração e distribuição da energia elétrica foi defendida pela publicação ao longo dos anos de 1940, mas só virou realidade nos anos de 1950, quando o governo de Minas criou a Cemig. A necessidade de planejamento econômico era outra pauta frequente nas primeiras décadas, sobretudo nos anos de 1960, quando o governo de Minas criou um arcabouço institucional para essa finalidade.
Uma das campanhas mais duradouras da história do Informador, que passou a se chamar DIÁRIO DO COMÉRCIO em 1947, foi a criação de um grande polo siderúrgico em Minas, dada a riqueza mineral. Do embrião à operação, Mannesmann, Usiminas, Açominas, entre outras, foram estimuladas e acompanhadas de perto pela reportagem do DC.
E já que temos aço, precisamos atrair fábricas de produtos finais – assim defenderam vários editoriais do jornal nos anos de 1950, 1960 e 1970. A instalação e funcionamento da montadora italiana Fiat, em Betim, já na década de 1970, considerada um marco na história da indústria de Minas, foi comemorada e ainda é acompanhada de perto pela publicação.
Outra pauta bastante presente no DIÁRIO DO COMÉRCIO é o petróleo. O combustível fóssil é notícia desde os editoriais da década de 1930, que acusavam o governo federal de incompetência na prospecção do energético, passando pela criação da Petrobras por Getulio Vargas, pelas crises internacionais do petróleo em 1973 e 1979, o descobrimento do pré-sal, as crises de corrupção e desvalorização da companhia e as recentes mudanças na política de preços do combustível.
Em uma época em que pouco se sabia sobre petróleo, o jornal trazia também inúmeras matérias sobre a alternativa do gasogênio e do álcool, como combustíveis menos poluentes.
Já nos anos de 1980 e 1990, diante da opção do País pelo modelo econômico neoliberal, muitas foram as reformulações editoriais, para que o jornal acompanhasse de perto e de forma analítica movimentos como privatizações, fusões e aquisições e os impactos das importações na economia. Análises sobre os vários planos econômicos do período, feitos para conter a hiperinflação, também eram frequentes nessa época. A redemocratização do País foi outra bandeira defendida e comemorada pelo DC no período.
A parceria com a Fundação Dom Cabral para o prêmio Minas Exporta durou 11 anos (de 1983 a 1994) e visava exatamente estimular as vendas externas nas empresas mineiras.
O DIÁRIO DO COMÉRCIO atraiu leitores inicialmente a partir da inovação de José Costa, que viu no boletim uma forma de prestar serviços informativos aos empresários da capital mineira. Mas há outras inovações na história do DC que merecem destaque.
Uma delas ocorrida em 1967, quando o jornal adquiriu o sistema de impressão off-set. Foi a primeira publicação em Minas e a segunda do País a contar com esse avanço, que rompia de vez com o princípio de Gutemberg.
Outra inovação ocorreu em 1970, quando o jornal passou a contratar repórteres e editores graduados em jornalismo, o que era incomum na imprensa brasileira na época. Nessa leva, veio a primeira mulher contratada para executar funções jornalísticas na redação, Heloísa Machado. Foi uma importante quebra de paradigmas na imprensa mineira.
Nos anos de 1980, o DIÁRIO DO COMÉRCIO foi pioneiro no País ao apostar no sistema informatizado Atex, que completou a informatização do processo de produção. Na primeira década dos anos 2000, o jornal inovou ao criar um caderno voltado para a gestão de empresas, tratando de temas como recursos humanos, gerenciamento, entre outras questões no dia a dia das companhias .De lá aos dias atuais, a forma de apresentar a notícia passou por modificações, com o advento dos sites, redes sociais e recursos multimídia. No entanto, a essência do jornal em prol do desenvolvimento de Minas Gerais, de forma sustentável e inclusiva, continua a mesma. E que venham os 100 anos!
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