Home >> Quem Fez História >> Dos ingleses até a AngloGold Ashanti
Inovações sempre estiveram presentes na trajetória da mineradora, que tem as operações mais antigas da história de Minas Gerais
Por: Sandra Carvalho Em 9 de agosto de 2022
Quem pensa que a história da AngloGold Ashanti começou em 2004, quando o grupo AngloGold adquiriu a Ashanti Goldfields, está muito enganado. A trajetória, na verdade, teve início há quase 188 anos e começou na mineradora Saint John del Rey Mining Company, fundada por ingleses. A companhia teve autorização de Dom Pedro I para explorar, a partir de 1834, a mina Morro Velho em Nova Lima, na Grande BH.
Dessa época aos dias atuais, o empreendimento passou por diversas expansões, teve quatro diferentes nomes e esteve sob o controle de três grupos. Atualmente, a empresa é listada nas bolsas de Nova York, Joanesburgo, Gana e Austrália, sendo uma das maiores produtoras de ouro em território brasileiro.
Esses são alguns fatos da trajetória da AngloGold Ashanti, que será contada nesta terceira reportagem da série especial “Quem fez história”, um presente do DIÁRIO DO COMÉRCIO a leitores e internautas em comemoração aos 90 anos do jornal.
Sobre o caminho percorrido pela AngloGold Ashanti, quem contou alguns detalhes foi o vice-presidente de Sustentabilidade da mineradora, Lauro Amorim.
“A história da hoje chamada AngloGold Ashanti começa em 1834, quando ingleses que tentavam extrair ouro sem sucesso na região de São João del Rey adquirem a mina Morro Velho. A empresa Saint John del Rey Mining Company, fundada por ingleses, transfere as operações para a então chamada Congonhas das Minas de Ouro, como era conhecida Nova Lima”, relatou Amorim.
Até a chegada dos ingleses, a Morro Velho era explorada de forma rudimentar. “Eles implantaram tecnologias, inovações e trouxeram conhecimentos sobre mineração importantes para aumentar a produção”.
Nas primeiras décadas de operação, predominava na mina Morro Velho a mão de obra de pessoas negras escravizadas, como infelizmente acontecia em praticamente todos os empreendimentos do País no período da escravidão. O modelo escravocrata foi sendo gradualmente substituído, seguindo uma tendência da Inglaterra e, no ano da abolição no Brasil (1888), quase 80% dos trabalhadores da companhia eram remunerados, segundo informações publicadas pelo pesquisador e produtor cultural Elmo Gomes – que estuda a história de Nova Lima.
“É um capítulo triste na história do qual não nos orgulhamos. Acompanhando a evolução civilizatória, houve a transição para a mão de obra remunerada. O tratamento digno e respeitoso com os colaboradores, o respeito à individualidade e à diversidade são valores cada vez mais fortalecidos, inegociáveis na empresa. Entendemos há muito tempo que, para se ter negócios prósperos e longevos, é preciso visar ao bem-estar das pessoas”, enfatizou o vice-presidente Lauro Amorim.
Entre o final do século XIX e início do século XX, os negócios foram expandidos para outras minas em Nova Lima e para a cidade vizinha de Raposos, além de outras operações na Grande BH. A planta metalúrgica da companhia em Nova Lima também foi inaugurada. A partir daí houve expansão para outras áreas, como a de energia.
Outro marco na história da empresa foi a geração de energia elétrica numa época em que poucos tinham acesso a esse recurso no Brasil. “Com o aprofundamento da mina de Morro Velho, em 1904, houve necessidade de ventilação, compressores e equipamentos mais eficientes para o transporte de materiais. Foi aí que nasceu a usina Rio do Peixe, a fio d’água, com várias usinas em cascata utilizando o mesmo potencial hidráulico”.
Foi preciso formar três reservatórios artificiais – lagoas Grande, Codorna e Miguelão – para a instalação da Rio do Peixe, uma das primeiras geradoras de energia elétrica em Minas Gerais. “A usina forneceu energia para a mina de Morro Velho, como também para Nova Lima, e chegou, por um tempo, a fornecer para Belo Horizonte”, observou Amorim. A Rio do Peixe opera até hoje, sendo responsável por 13% da energia consumida pela AngloGold Ashanti.
Com a geração própria, a Saint John Del Rey Mining Company disponibilizou o trem elétrico que ligava Nova Lima às já iniciadas operações em Raposos, também na Grande BH, para fazer o transporte de pessoas e cargas.
Em 1960, uma grande mudança na história da mineradora aconteceu. Por força da legislação brasileira, que à época restringia o controle acionário de empresas por grupos estrangeiros, a Saint John Del Rey Mining Company foi vendida ao grupo brasileiro Moreira Sales. “A companhia passa a se chamar então Mineração Morro Velho S.A.. Mantém parte dos ingleses trabalhando e da estrutura de funcionamento e de mercados. Houve mudanças, mas o foco continuou sendo a extração de ouro. As culturas criadas pelos ingleses ao longo do tempo também permaneceram”.
Quinze anos depois, em 1975, a sul-africana AngloAmerican adquiriu o controle acionário da Morro Velho. “É um terceiro ciclo de mudança e um novo ciclo de investimento, agora sob a estrutura de uma multinacional, que percebe a necessidade de aprimoramento tecnológico. A alteração do nome de Morro Velho para AngloGold, que era a parte de ouro do grupo AngloAmerican, só acontece em 1999”, contou Amorim.
Segundo o vice-presidente, essa reorganização em 1975 foi muito importante ao longo da década de 1980, quando os projetos das principais operações que se têm hoje foram iniciados. “É uma década que mostra o quanto é importante fazer planejamento e ter investimentos em projetos de longo prazo”, observou.
Em 2004, quando a AngloGold adquiriu a Ashanti Goldfields Corporation, em Gana, a companhia transformou-se na AngloGold Ashanti, como é nomeada até hoje. “Entre 2006 e 2007, a Anglo American foi se desfazendo das ações da AngloGold Ashanti e hoje já não tem mais o controle acionário”, informou Lauro Amorim.
De lá pra cá, importantes passos foram dados. Entre eles, a expansão das atividades para Goiás, onde em 2012 foi adquirida a mina de Crixás. Hoje, as operações da companhia em Minas e Goiás geram 5 mil empregos diretos e 7 mil indiretos.
A AngloGold Ashanti tem operações em oito países e mantém como negócio principal a extração de outro. O recorde de produção veio entre 2014 e 2015, quando foram apuradas 15 toneladas de ouro. “Também há ácido sulfúrico e uma pequena parcela de prata, como subproduto do ouro”.
Em relação aos fatos mais atuais da companhia, Amorim destacou a forma como a agenda ESG (na sigla em inglês, responsabilidade social, ambiental e governança) tem se tornado essencial em todas as operações nos últimos anos. “É um caminho não só de construção de valor, mas também do legado positivo que a empresa deixa para sociedade. Cada vez mais trabalhamos com menos emissões de carbono e com mais preservação. A empresa é um ente inserido na sociedade e com os mais elevados padrões de governança”.
Nesse sentido, o vice-presidente de Sustentabilidade destacou o plano iniciado em 2016 e que neste ano caminha para a etapa final de deposição de 100% dos rejeitos a seco, o que já é uma realidade em Goiás. Em relação às barragens, Amorim destacou que quatro das sete barragens em Minas Gerais estão em processo de descaracterização”.