Diário do Comércio
  • HOME
  • HÁ 90 ANOS
  • QUEM FEZ HISTORIA
  • DIÁLOGOS DC
  • PRÊMIO JOSÉ COSTA
  • HOME
  • HÁ 90 ANOS
  • QUEM FEZ HISTORIA
  • DIÁLOGOS DC
  • PRÊMIO JOSÉ COSTA

Home >> Quem Fez História >> Cedro marca a história do setor têxtil no Brasil

Cedro marca a história do setor têxtil no Brasil

Uma das maiores companhias têxteis do País nasceu da obstinação de um jovem visionário, há 150 anos, no sertão de Minas

COMPARTILHE

Por: Sandra Carvalho Em 12 de julho de 2022

Crédito: Cedro Têxtil/Divulgação

Sandra Carvalho,
especial para o DC

A história de uma nação é vivenciada por seu povo, mas pode ser contada através das empresas. Períodos de guerras, pandemias, crises políticas, sociais e econômicas, tudo pode ser analisado também sob a ótica das companhias, principalmente aquelas que passaram por adversidades e se mantêm firmes até hoje. Qual é o segredo – ou segredos – da longevidade dessas empresas na ativa por várias décadas ou até séculos? É o que se busca responder, despretensiosamente, com a série especial “Quem faz história”, criada em comemoração aos 90 anos do DIÁRIO DO COMÉRCIO, que estreia nesta edição com publicações quinzenais.

Em uma pesquisa na Junta Comercial do Estado de Minas Gerais (Jucemg), foram levantados os cadastros nacionais de pessoas jurídicas (CNPJs) mais antigos de Minas ainda na ativa. O mais antigo deles é de uma robusta indústria têxtil, criada no século 19: a Companhia de Fiação e Tecidos Cedro Cachoeira, ou apenas Cedro Têxtil, como é chamada hoje. A empresa, que no próximo 12 de agosto completará 150 anos de existência, surgiu das inquietações de um jovem visionário, chamado Bernardo Mascarenhas. A história da Cedro se confunde com a própria história da indústria têxtil no Brasil, e tudo graças ao Bernardo.

Filho de comerciantes bem-sucedidos na região de Curvelo, com apenas 17 anos, Bernardo Mascarenhas colocou uma ideia fixa na cabeça: queria criar uma fábrica de tecidos. “Ele se inspirou em teares de madeira, manuais, que a mãe dele, a dona Policena, tinha nos porões da Fazenda São Sebastião, ali na região de Curvelo. Era uma pequena tecelagem que ela utilizava para fazer sacaria, tecidos simples, bem rudimentares”, contou o CEO da Cedro, Marco Antônio Branquinho.

CEO da Cedro, Marco Antônio Branquinho | Crédito: Cedro Têxtil/Divulgação
CEO da Cedro, Marco Antônio Branquinho | Crédito: Cedro Têxtil/Divulgação

O garoto sabia muito bem o que queria, mas não tinha recursos suficientes para criar uma indústria e, muito menos, a experiência. Até ali, havia trabalhado no comércio de sal em sociedade com um dos irmãos, o Caetano. Mas ele queria algo mais grandioso. Bernardo e Caetano desfizeram a sociedade num momento bom para o comércio de sal, ficando cada um com uma importância significativa em dinheiro.

O ano era 1868, Brasil Império. O primeiro grande desafio de Bernardo para concretizar o novo projeto era conseguir mais dinheiro para investir na fábrica de tecidos. Tentou convencer o pai, Antônio Gonçalves da Silva Mascarenhas, e os irmãos mais velhos. Da turma toda (e eram muitos filhos), somente Caetano e Antônio Cândido, importante financista da região, embarcaram no sonho do irmão mais novo.

O próximo passo de Bernardo era definir com os irmãos a localização da fábrica, batalha em que o jovem foi voto vencido. “O Bernardo queria a fábrica na região de Juiz de Fora, por ser mais próxima da corte e por questões de logística e mercados. Mas ele não consegue convencer os irmãos, que querem o negócio ali, perto dos olhos. A fábrica então fica na região de Curvelo mesmo”, pontuou o CEO. Isso foi positivo, uma vez que a região tinha boa produção de algodão, o principal insumo.

A fábrica funcionaria na fazenda Cedro, propriedade dos irmãos em Tabuleiro Grande, num local hoje conhecido por Caetanópolis, na região Central do Estado. A sociedade com Antônio Cândido e com Caetano deu origem, em 1868, à empresa Mascarenhas e Irmãos, com capital de 150 contos de réis. A partir dali, começa a execução do projeto que viria a ser grandioso.

“Mas, nessa fase, faltava um conhecimento maior sobre a atividade”, informou Branquinho. Bernardo partiu em 1868 para o Rio de Janeiro em busca de pesquisa e conhecimento. “No Rio, ele faz os primeiros estudos e contatos e faz a compra dos equipamentos. Aí ele retorna com o maquinário e inicia a montagem”.

Falando assim parece simples, mas não foi não. “A escolha dos equipamentos, passando pela aquisição até a montagem deles, é um capítulo à parte na história da Cedro”, destacou o CEO.

Da aquisição do maquinário ao start da indústria

A compra dos equipamentos demandou grande pesquisa por parte de Bernardo Mascarenhas. Enquanto ele estava no Rio de Janeiro fechando o negócio, os irmãos se movimentavam junto ao Império, buscando isenção de impostos de importação dos equipamentos. Do Rio, Bernardo fez uma visita a uma fábrica de tecidos em Itu (SP), que funcionava com o mesmo tipo de equipamento hidráulico que ele iria comprar.

O transporte e a montagem dos equipamentos foram mais um desafio na história da Cedro. Era um percurso de 60 léguas (cerca de 290 quilômetros) entre Juiz de Fora e a Fazenda Cedro.

“Imagina você transportar 250 toneladas de equipamentos do Rio de Janeiro a Tabuleiro Grande naquela época? Tinha estrada de ferro até Juiz de Fora. Mas de Juiz de Fora em diante não tinha. Ele teve que trazer tudo em carros de boi. Foram de três a quatro meses de transporte desse maquinário. E depois, o desafio da montagem, pois não havia ninguém no Brasil com experiência nesse sentido. Um tear mecânico naquela época era quase uma ‘nave espacial’. Bernardo teve muita dificuldade em trazer os técnicos. Eles não queriam vir para o interior do Brasil. Até o Rio de Janeiro eles topavam vir, mas ir para o interior estava fora de cogitação”, relatou o CEO.

Mesmo com todas as dificuldades, em 12 de agosto de 1872, Bernardo dá início à operação da fábrica da Cedro. A autorização de funcionamento foi dada por Dom Pedro II e publicada no Diário Oficial do Império. “E as coisas têm as suas dificuldades iniciais. O startup de uma nova operação, a aprendizagem de uso dos equipamentos, criar um conceito de indústria, um novo conceito em relação à mão de obra, pois estavam vivendo ali o triste período escravocrata. Fazer a transição da mão de obra de pessoas negras escravizadas, uma realidade que perdurava há mais de 300 anos, para a mão de obra assalariada foi uma grande adaptação, necessária”.

Bernardo Mascarenhas: um jovem que sabia o que queria | Crédito: Cedro Têxtil/Divulgação

Estagiário de Thomas Edson

Passadas as dificuldades técnicas iniciais, a fábrica da Cedro começa produzindo a plena carga, a pleno sucesso. Vendo que se tratava de um bom negócio, que tinha mercado crescente no Brasil, outros irmãos e um cunhado de Bernardo pedem ajuda para montar uma segunda fábrica, a da Fazenda Cachoeira. O jovem obstinado, mas já experiente, mergulha de cabeça no novo projeto.

Dessa vez, para não repetir os mesmos erros de antes, ele opta por comprar o maquinário do novo empreendimento diretamente dos fabricantes, sem agentes atravessadores, e vai direto para Manchester, na Inglaterra, onde estão as maiores fábricas de equipamentos e tecelagens do mundo. Bernardo faz estágios nessas empresas, não apenas para entender o ofício ou aprender a lidar com as máquinas, mas, principalmente, para assimilar as perspectivas do setor industrial e do capitalismo no mundo. Lá ele percebe a importância do treinamento e valorização da mão de obra assalariada, costume que traz para o Brasil.

Na Inglaterra, ele passa por Liverpool e depois segue para os Estados Unidos e busca informações sobre algo novo, do qual pouco se sabia, mas que iria revolucionar a indústria no mundo: a eletricidade.

Nessa viagem, conhece Thomas Edson e faz estágio nos laboratórios de Edson, dando início ali a um novo talento em sua vida. Mas o fato de Bernardo ter sido estagiário de Edson, iluminado Juiz de Fora na mesma época em que Nova York era iluminada, ter construído a primeira tecelagem com teares elétricos do Brasil na cidade da Zona da Mata e o fato de ele ter feito projeto de iluminação de Belo Horizonte, em 1898, são um capítulo à parte na vida do rapaz obstinado, que podem ser lidos em detalhes no livro “Bernardo Mascarenhas: desarrumando o arrumado”, de Alisson Mascarenhas Vaz, editado pela Cedro Têxtil.

Voltando à história da fábrica da Cachoeira, Bernardo retorna do exterior, onde ficou por um ano aprendendo. Ele encomenda 52 teares hidráulicos para a produção de tecidos mais finos na fábrica da Cachoeira. A indústria fica pronta e entra em operação em 1877.

“Parte dos sócios das duas fábricas são as mesmas pessoas. Chega um momento em que elas concorrem entre si, competem com os mesmos produtos, têm os mesmos donos. Até que os sócios decidem pelas fusões das operações, em 1883, criando a Companhia de Fiação e Tecidos Cedro e Cachoeira. É o primeiro M&A do Brasil, com um estatuto e regras muito bem definidas, o que foi muito importante para a governança e longevidade da empresa”, relatou Marco Antônio Branquinho.

A fusão, feita pouco após a publicação pelo Império da Lei 3.150, conhecida por Lei das Sociedades Anônimas, dividiu o capital em 5.000 ações nominativas entre, inicialmente, nove sócios. No ano seguinte, já eram 18 sócios. A companhia, que não parou de se modernizar e crescer, foi uma das primeiras a ser listadas na Bolsa de Valores brasileira. “A Cedro é anterior à Bolsa, mas é a companhia mais longeva entre as companhias listadas”.

COMPARTILHE

Assine nossa Newsletter

Diário do Comércio

© Diário do Comércio. Desenvolvido por Sitex. Todos os direitos reservados.
Termos de Uso - Política de Privacidade

Utilizamos cookies que o reconhecem e identificam como um usuário único, para garantir a melhor experiência de navegação e usabilidade e melhorar o desempenho do nosso site e serviços. Ao continuar com a navegação em nosso site, você aceita o uso de cookies e concorda com a nossa política de privacidade e termos de uso.