Home >> Quem Fez História >> CBMM faz opção pelo alto valor agregado e muda trajetória
Relevância mundial veio com exportação de produtos de nióbio
Por: Sandra Carvalho Em 1 de novembro de 2022
Uma empresa que nasceu da tentativa de exportar um mineral chamado pirocloro, mas que muda sua história ao decidir investir em tecnologia e comercializar produtos de alto valor agregado em vez da simples matéria-prima. Dessa forma, essa companhia tornou Minas Gerais referência mundial quando o assunto é nióbio, metal cada vez mais valorizado em um mundo voltado à sustentabilidade. Esses fatos fazem parte da trajetória da Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), hoje líder mundial na fabricação e comercialização de produtos de nióbio.
A trajetória de 67 anos da companhia, com sede em Araxá, no Alto Paranaíba, é tema desta reportagem da série especial “Quem fez História”, um presente do DIÁRIO DO COMÉRCIO a leitores e espectadores, em comemoração aos 90 anos do jornal, completados no dia 18 de outubro.
A companhia, que hoje tem capacidade de produzir 150 mil toneladas de produtos de nióbio e que fabricou no ano passado 85 mil toneladas, conta com cerca de 2.000 colaboradores no Brasil, sendo 1.700 em Araxá. São mais de 400 clientes em 50 países. Mas para chegar nesse patamar, o caminho foi de muito investimento em pesquisa e tecnologia e planejamento de longo prazo.
Para entender o surgimento da CBMM, primeiro é preciso entender o contexto histórico em que ela nasceu. Antes da criação da empresa, no início dos anos de 1940, o então presidente Getúlio Vargas inaugurou, em Araxá, o balneário do Barreiro, conhecido mundialmente por suas fontes hidrotermais. Naquela época, o governo de Minas Gerais intensificou estudos e levantamentos sobre o potencial mineral na região.
Foi em 1953 que o pesquisador Djalma Guimarães descobriu reservas de pirocloro em Araxá e, em 25 de outubro de 1955, foi fundada a CBMM. As operações de lavra tiveram início seis anos depois, em 1961. “Começam as vendas do mineral (pirocloro), mas não deram muito certo. Não existiam muitas aplicações, mas já se tinha uma visão de que aquilo poderia ser importante para o futuro”, informou Giuliano Fernandes.
Nessa época, o mundo vivia a Guerra Fria entre Estados Unidos e União Soviética e uma grande corrida desses países por soluções materiais. Foi ficando claro para a companhia que o caminho era outro, bem diferente da mera exportação de matéria-prima. “Perceberam que tão importante quanto a reserva mineral era ter a tecnologia para conseguir se produzir metais, produtos a partir desse minério”, disse Fernandes.
Nesse contexto, em 1965, o grupo brasileiro Moreira Sales assumiu o controle majoritário da companhia, mantido até hoje. “Com a visão empreendedora dos Moreira Sales, começa a agenda da empresa para tecnologias de produtos”, contou o executivo.
Uma das possibilidades era a produção de nióbio, um metal capaz de transformar propriedades de outros materiais, como o aço, por exemplo, tornando-os mais resistentes ao calor e a outras intempéries, além de mais leves e eficientes.
Com esse objetivo, a CBMM então segue por dois caminhos simultâneos. “Um deles foi desenvolver tecnologia competitiva para produzir o nióbio, a partir de pirocloro, orientada junto à metalurgia e à química (…) Estávamos construindo uma ciência, uma nova tecnologia. Foram feitas parcerias com grandes centros acadêmicos do Brasil, com empresas privadas, cientistas, pesquisadores e pessoas de referência da cadeia metalúrgica e química ”, contou o executivo.
O segundo caminho diz respeito à aplicação de produtos de nióbio. “Do ponto de vista das aplicações do metal foram envolvidos cientistas de várias partes do mundo. Estabelecemos parcerias com linhas de aplicações na Inglaterra, nos Estados Unidos e no Japão. Ou seja, como produzir foi uma construção brasileira e como aplicar foi internacional. Então, esses dois pilares trabalhados juntos – tecnologia e aplicações – deram tração e geraram negócios”, disse Fernandes.
Os anos seguintes, conforme Giuliano Fernandes, foram de muito trabalho e pesquisa, até que em 1975, a CBMM iniciou a produção de ferronióbio em Araxá. Quatro anos depois, foi iniciada a produção de óxido de nióbio em larga escala. Nesse intervalo, foram inaugurados escritórios da companhia e formalizadas atividades de tecnologia em em vários países como EUA, Alemanha, Japão, Coreia, China e Rússia.
A parceria com o governo do Estado de Minas Gerais faz parte da história da CBMM. Ela começou há 50 anos, em 1972, quando o governo do Estado, por meio da Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig), assinou com a CBMM um acordo para otimizar o aproveitamento do minério de pirocloro, matéria-prima para os produtos industrializados de nióbio. Desde então, a Codemig vem recebendo 25% do lucro líquido da CBMM, obtido com o beneficiamento, industrialização e comercialização de produtos finais de nióbio.
Para entender um pouco melhor como funciona essa parceria nos dias de hoje, segundo o head de Marketing e Comunicação da CBMM, Giuliano Fernandes, é preciso voltar à década de 1950, quando foram concedidos tanto à CBMM quanto à Codemig direitos minerários sobre as reservas de pirocloro em Araxá, no Alto Paranaíba, onde está a sede da companhia.
Naquela época, a empresa pública e a companhia privada acordaram uma primeira parceria que previa que a CBMM extrairia o minério de pirocloro das duas minas (da CBMM e da Codemig) e pagaria royalties de 7% do minério lavrado da mina da Codemig. Na ocasião, o que a CBMM extraía da sua própria mina não entrava no acordo.
“Em 1972, o Estado pediu a substituição desse acordo pela parceria que está em vigor até hoje. Por essa parceria, foi criada a Companhia Mineradora do Pirocloro de Araxá (Comipa), uma empresa de gestão compartilhada que recebeu, por arrendamento, os direitos de lavra das duas minas, da Codemig e da CBMM”, explicou.
De acordo com informações enviadas pela assessoria de imprensa da CBMM, a Comipa existe para garantir que todo o processo de lavra do pirocloro seja feito de forma igualitária, ou seja, uma tonelada de minério de cada lado. Em razão da parceria, a Comipa vende o minério com exclusividade para a CBMM, que é a única responsável pela industrialização e comercialização dos produtos, pelo desenvolvimento de mercado e aplicações finais para o nióbio.
Por força do mesmo contrato, a Codemig recebe 25% do resultado da operação da CBMM, incluindo a venda dos produtos que se originaram do minério de pirocloro extraído da mina da CBMM. E isso é feito através de uma sociedade em conta de participação (SCP), uma sociedade de resultado, que possibilita legalmente o pagamento de um quarto do lucro da CBMM para a Codemig.
Em 2021, a CBMM pagou R$ 1,5 bilhão para a Codemig por meio deste contrato. Quanto maior o lucro da CBMM, maior a participação da Codemig. Para garantir a lisura, a cada trimestre, uma auditoria independente contratada pela Codemig realiza uma auditoria para confirmar a regularidade de todo o processo e do pagamento da participação de 25% do resultado da CBMM.
Segundo a CBMM, a criação da Comipa assegura que a extração do minério seja feita em igual quantidade nas duas concessões, não havendo desequilíbrio para nenhum dos dois lados.
Seguindo a estratégia de estimular novas aplicações de nióbio, a CBMM deu um importante passo em 2018, quando iniciou parceria com a Toshiba para a produção de baterias de lítio com óxidos de nióbio. De lá aos dias atuais, novas parcerias surgiram. Nesse sentido foi criado na companhia um programa voltado a baterias, um mercado cada vez maior a partir do advento de veículos elétricos..
Para 2022, a companhia prevê aumentar investimentos desta frente de R$ 60 milhões (em 2021) para R$ 70 milhões, já que as vendas dos produtos para aplicação em baterias também devem apresentar incremento passando de R$7,5 milhões, em 2021 para R$ 75 milhões em 2022.
Outro ponto importante na história da CBMM é a agenda ambiental. Em 1986, a companhia inaugurou o centro ambiental em Araxá, voltado à preservação do Cerrado e de animais que correm o risco de extinção, como o lobo-guará. “Toda atividade tem um impacto e a gente busca devolver à sociedade uma contrapartida bem maior que o impacto que geramos. Além do centro de preservação ambiental, há também todo um trabalho voltado à educação ambiental, com alunos de escolas de Araxá”, informou o head de Marketing e Comunicação da CBMM, Giuliano Fernandes.
Já na história recente, a Covid-19 é um capítulo à parte, pois pegou a empresa de surpresa, no meio de processo de expansão, com investimentos de quase R$ 7 bilhões no complexo de Araxá, bem no meio do ciclo de investimentos.
“Naquele momento, tomamos a decisão de frear o ritmo, mantendo escala mínima de produção(…) Houve parceria com a administração pública para a prevenção e combate à Covid em Araxá. O trabalho híbrido, já era uma realidade na companhia, por termos gente trabalhando em vários países. Mas, do ponto de vista do mercado, fomos afetados, pois houve diversas paradas, principalmente na Ásia. Foi uma situação desafiadora, mas mantivemos todos em segurança”, comentou Giuliano Fernandes.
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