Home >> Diálogos DC >> Papel da imprensa foi discutido no último Diálogos DC 90 anos
Tema foi destaque no painel realizado em 17 de novembro
Por: Redação Digital Em 22 de novembro de 2022
Anne Morais,
especial para o DC
O epicentro da conversa realizada na solenidade de entrega do Prêmio José Costa foi sobre dar voz às situações mais adversas, assim como pontos de vista, como o que foi feito ao longo das edições do Diálogos DC 90 anos.
A mediadora do debate, jornalista e diretora de Relações Corporativas da Fundação Dom Cabral, Marina Spínola, questionou a respeito do papel da imprensa na divulgação de iniciativas que apontam para essas diferentes realidades trazidas pelos painelistas.
Para Marciele Delduque, presidente estadual da Central Única das Favelas de Minas Gerais (Cufa-MG), no que tange à Cufa, ir além das notícias ruins dos territórios de favela e destacar as questões positivas é algo sempre relevante.
“Quando pautamos as notícias boas fortalecemos a instituição e o território, mostrando o quão potente ele é. As parcerias com meios de comunicação trouxeram conexões e oportunidades e é necessário que seja algo contínuo, ampliando nossa voz e importância, ampliando tudo o que fazemos”, afirma.
Para a Chief Legal & Institutional Relations Officer da Localiza, Suzana Fagundes, o desafio é ainda maior, já que, cada vez mais, as pessoas buscam se comunicar com pessoas que pensam da mesma forma. De acordo com sua visão, a mídia social trouxe um efeito reverso do esperado, já que em vez de ampliar, restringiu. “Os jornais e as instituições de comunicação têm a função e responsabilidade de trazer as informações de forma idônea, para construir essa consciência de forma ampla”, reflete.
O papel de denúncia dos problemas também integra o escopo na visão do secretário de Estado de Planejamento e Gestão do Acre, coronel Ricardo Brandão, para buscar soluções e diversificar o debate, envolvendo a comunicação social.
Para tornar a noite ainda mais especial, o Diálogos DC 90 anos, que integrou a solenidade em celebração aos 90 anos do DIÁRIO DO COMÉRCIO, apresentou como oradora principal Mafoane Odara, executiva na área de recursos humanos, psicóloga e integrante das Redes de Líderes Políticos da RAPS (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade), da Fundação Lemann e do Movimento Agora!.
O encontro foi de muita inspiração e permitiu profundas reflexões, principalmente sobre as complexidades do mundo atual. Para a líder, se nada é simples, a forma de resolver os problemas tende a ser complexa: “e não existe solução simples para problema complexo”, ressaltou. Para sintetizar, ela citou Adam Kahane, que trabalhou com Nelson Mandela nas soluções dos problemas para a África do Sul, após o Apartheid.
De acordo com Mafoane, o especialista pondera que, “frente às adversidades, a primeira coisa a se fazer é abraçar a complexidade e o conflito. Não dá para criar um ambiente e achar que todo mundo vai pensar igual, porque não vai. O problema não é discordar, o problema é que a gente desaprendeu a discordar”.
Em um país polarizado como o Brasil atual a reflexão é ainda mais pertinente. “Penso que o diálogo não deveria ser uma disputa de tênis, onde um ganha e outro perde. Deveria ser muito mais uma cerimônia de chá onde a gente encontra consensos e eleva a conversa para um próximo nível”, acredita.
Para Mafoane, isso não ocorre porque as pessoas precisam sair da posição de estarem certas para a lógica de criar novas possibilidades e não cair em uma – ou várias – das três armadilhas da modernidade: “a do saber: já que nunca sabemos tudo, temos sempre algo a aprender. A armadilha do controle, pois devemos controlar apenas o que pode ser controlado. As pessoas precisam de espaço para serem autênticas e completas. Precisamos ser generosos com nós mesmos. Os líderes precisam de um lugar de fragilidade para não adoecer e não adoecer a instituição. O burnout não tem a ver com excesso de trabalho e sim com a falta de autonomia, com a dificuldade de fazer gestão de tempo e processos. E, por fim, a armadilha do poder: ainda mantemos a lógica da hierarquia, deixamos de perceber que todo mundo tem com o que contribuir”, pontua.
Considerada uma construtora de pontes e colecionadora de boas perguntas, Mafoane ressalta que um dos fatores importantes para a sustentabilidade nas empresas é a cultura. A sociedade chegou em um lugar chamado de cultura de engajamento, onde, para além do dinheiro, as pessoas querem ser felizes e ter propósito. Todos estão aprendendo a gerenciar melhor os componentes econômicos, sociais, ambientais para pensar de forma sustentável.
Essa jornada é em busca da diversidade e representatividade. “A gente vai sair do que estamos hoje para chegar à cultura do significado. Para as organizações darem voz às pessoas, sermos coerentes, aquilo que a gente faz deve ser o que acreditamos de verdade. O que move o mundo são as perguntas e não as respostas e a gente perdeu a capacidade de fazer boas perguntas, porque todo mundo sabe e todo mundo acha alguma coisa, o que faz com que estejamos pouco preparados para ouvir o que as pessoas que pensam diferente da gente têm a dizer”,
Em suas pesquisas, a líder percebe que os indivíduos sempre acham que o problema é o outro e que só precisam ser parte da solução se for parte do problema. “A grande transformação quando a gente fala de lideranças para o futuro é se reconhecer como parte do problema, do seu lugar social. Diversos somos todos, precisamos aumentar a representatividade e parar de querer que as pessoas reproduzam determinados comportamentos. Não adianta pensar diversidade se não cria espaço para as pessoas serem autênticas”, argumenta.
Nesse processo essencial para todas as empresas e organizações, para além dos grandes projetos e mudanças nas relações, a executiva acrescenta que todos devem olhar para as pequenas atitudes e comportamentos. Ela questiona, por exemplo, qual é o sentido de, nesse ambiente corporativo, ficar perguntando às pessoas sua idade, onde mora, ou com quem vai deixar o filho. Ela lembrou que parar de fazer esses questionamentos pode ajudar as pessoas a se livrarem dos seus vieses inconscientes “Não é fácil, além de coragem, é preciso intencionalidade”, finaliza.