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Debate será lançado amanhã, no canal do DC no Youtube, e faz parte das comemorações dos 90 anos do jornal
Por: Thaíne Belissa Em 31 de agosto de 2022
Enquanto a sociedade tenta se reerguer após uma crise de saúde mundial causada pela Covid-19, outras notícias sobre o desequilíbrio ambiental e de ameaça à vida não param de chegar: o aumento de casos da varíola dos macacos; o Mapa da Fome e seu triste raio-x da miséria; a devastação da Amazônia.
As temerosas previsões de um planeta em colapso que pareciam distantes, agora batem à porta e assustam. Para promover uma reflexão sobre esse tema e discutir possíveis soluções protagonizadas pela sociedade, o DIÁRIO DO COMÉRCIO realiza o 3º Diálogos DC 90 anos, que será lançado amanhã no canal do jornal no Youtube.
O evento faz parte de um ciclo de debates que iniciou em julho e vai até novembro. O Diálogos DC faz parte do Movimento Minas 2032, que é fruto da articulação das diferentes esferas sociais para construção de uma sociedade pautada pelos ODS. A iniciativa busca o poder transformador da troca de ideias por meio de debates realizados entre especialistas, representantes do poder público, da sociedade civil e de empresas dos diferentes setores econômicos. Em 2022, a iniciativa ganhou o nome especial Diálogos DC 90 anos, em comemoração às nove décadas do jornal.
O debate que vai ao ar amanhã tem como temática central a “qualidade de vida e ambiental”. Para contemplar as diferentes perspectivas desse tema, o DC convidou três lideranças de áreas bem distintas, sendo a primeira delas a presidente da Associação Mineira de Indústria Florestal (Amif), Adriana Maugeri. Com uma carreira marcada pela atuação em grandes empresas na gestão da sustentabilidade corporativa e pela ampla experiência na implantação dos pilares ESG ao negócio, Adriana falará sobre meio ambiente sob a perspectiva do setor produtivo.
Além dela, também estará presente a médica infectologista e consultora de Analytics no departamento de Big Data do Hospital Albert Einstein, Luana Araújo. Ela é mestre em Saúde Pública e, durante a pandemia da Covid-19, trabalhou com governos em todo o mundo para construir respostas nacionais à doença. Chegou a ser nomeada como secretária Nacional de Resposta à Covid-19 pelo governo brasileiro, mas seu mandato foi encerrado devido a suas posições pró-ciência. Ela ficou bastante conhecida por seu depoimento na CPI da Covid do Senado e se tornou uma das principais vozes da divulgação científica no País.
Para trazer uma contribuição sobre os desafios ambientais no contexto da vida na cidade, participará o urbanista e arquiteto Roberto Andrés. Ele é professor da Escola de Arquitetura da UFMG e coordenador da rede Nossas Cidades, que atua na criação e divulgação de mobilizações que transformam as cidades. Andrés também é um dos fundadores da revista Piseagrama e da iniciativa Nossa América Verde, movimento que articula ativistas, sociedade civil e lideranças políticas latino-americanas em torno de um Plano de Recuperação Econômica com Justiça Social e Ambiental.
O debate será mediado pela jornalista Paola Carvalho, que ainda convidará o diretor do Instituto Orior e representante do Movimento Minas 2032, Raimundo Soares, para propor uma reflexão a partir das apresentações.
A presidente e diretora editorial do DIÁRIO DO COMÉRCIO, Adriana Muls, destaca o alinhamento do tema à missão do jornal, que é promover o desenvolvimento sob a ótica do bem comum.
“Não podemos falar em prosperidade e desenvolvimento sem falar em noção de coletividade. Esse tema da qualidade de vida e ambiental nos alerta que vivemos em um só planeta, compartilhando os mesmos recursos naturais, então se quisermos viver com qualidade de vida teremos que parar de olhar apenas para nós mesmos. É uma alegria fazer essas reflexões no Diálogos DC, trazendo para o debate a profundidade que os temas exigem, identificando gargalos, apresentando diferentes olhares e, sobretudo, apontando caminhos”, frisa.
Falar em qualidade de vida pode parecer um tanto abstrato para algumas pessoas, uma vez que a expressão é utilizada de maneiras muito diferentes no dia a dia. Há quem pense em qualidade de vida apenas sob a ótica da saúde, outros da distribuição de renda ou, ainda, a partir de conceitos mais complexos como felicidade. Mas de que maneira esse tema está relacionado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e como, de fato, ele contribui para a construção de um mundo melhor? O diretor do Instituto Orior e representante do Movimento Minas 2032, Raimundo Soares, responde a essas perguntas, que também embasam o debate do 3º Diálogos DC 90 anos, que vai ao ar amanhã.
De que maneira o tema da qualidade de vida perpassa os 17 ODS?
Qualidade de vida é ampla e multidimensional. A gente pode compreender isso como círculos concêntricos, um dentro do outro, com o indivíduo no centro. O círculo do indivíduo está dentro do círculo das organizações de convivência pessoal e profissional, que está dentro do círculo de mercados, que está dentro do círculo de sociedade, que, por sua vez, está no círculo maior do planeta, que é o organismo mais complexo que carrega todo mundo. A qualidade de vida está diretamente ligada ao indivíduo, ou seja, ao que é intrínseco a ele e às suas especificidades, mas também ao extrínseco, que é a relação do indivíduo com essas outras dimensões que estão nos círculos externos a ele. E é por isso que qualidade de vida perpassa todos os ODS, porque ela está ligada à relação do indivíduo com ele mesmo, mas também com os ambientes que ele vive. Por exemplo, quando a gente fala dos ODS de mercado, podemos pensar no trabalho digno. Nos ODS de sociedade, podemos falar de igualdade de gênero, de saúde, de justiça social. Nos ODS de natureza, pensamos em águas, terras, clima. A qualidade de vida está inserida em tudo isso.
Então, o conceito de qualidade de vida vai muito além da ideia de saúde como ausência de doença, por exemplo?
A OMS define qualidade de vida como a percepção do indivíduo de sua inserção na vida, no contexto da cultura e sistemas de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações. Veja o quão ampla é essa definição. Quando a OMS vai auferir isso ela usa questionários e parâmetros diversos, como a questão física, onde entra dor, fadiga, sono. Ou, ainda, o domínio psicológico, que leva em consideração os pensamentos positivos, a memória, a autoestima, por exemplo.
Quais os conceitos mais importantes dentro da ideia de qualidade de vida?
A gente pode sintetizar qualidade de vida em 7 itens, sendo o primeiro deles o senso de identidade. O quanto o indivíduo percebe que sua vida faz sentido e que ele está inserido em uma sociedade? O segundo é a integridade interna e externa. Como estou comigo mesmo e como estão minhas relações familiares, no ambiente de trabalho, na comunidade onde vivo? O terceiro é a liberdade de expressão, que está relacionada ao quanto eu posso ser eu mesmo nos ambientes que frequento e à democracia. O quarto é inovação, que tem a ver com, ao me deparar com o vento contra, o quanto estou preparado para lidar com o imprevisto e criar soluções? O quinto é a potencialidade e o repertório de cada indivíduo. E a pergunta para entender esse quesito é: quanto de conhecimento eu tenho para conduzir minha vida, ter percepção de mim mesmo e do meio que estou inserido? O sexto é a viabilidade e a saúde. Estão ligados a uma remuneração justa e adequada que me permite viver com qualidade. O sétimo é a produtividade e tem a ver com o quanto o trabalho que eu faço tem a ver comigo e quão feliz estou com o que eu entrego. Há, ainda, um quesito que estaria dentro de integridade, mas que eu deixei por último porque permeia por todos esses, que é como eu exerço a minha espiritualidade?
O que esse tema tem a ver com o desenvolvimento de um país?
Para desenvolver um país é preciso desenvolver alguns setores estruturantes de uma nação. Esses setores estão ligados à qualidade da cidadania, da vida e bem-estar, do meio ambiente, da democracia, da inovação e da tecnologia, da educação, da geração e distribuição de riquezas e da competitividade e produção responsável. O governo serve para promover esses vetores, que, em síntese, são a vida dos indivíduos. Esses eixos estão diretamente relacionados aos itens de qualidade de vida, pois não existe nação que vai bem com as pessoas indo mal. Como a economia pode estar bem com uma sociedade que vai mal? O desempenho de uma nação é o desempenho dos seus cidadãos.