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O Informador Comercial, hoje DC, na década de 1950, apontou acertos, falhas e alertou para riscos de planos econômicos
Por: Sandra Carvalho Em 2 de agosto de 2022
A década de 1950 na história do Informador Comercial, hoje DIÁRIO DO COMÉRCIO, é marcada por uma ampla cobertura econômica, mas, principalmente, pelo aprofundamento na análise do cenário político, desde a volta de Getúlio à Presidência até os resultados do Plano de Metas de Juscelino Kubitschek. O jornal também passou por avanços tecnológicos e mudanças gráficas e editoriais que facilitaram a apresentação do conteúdo e a leitura.
As informações a seguir são baseadas no livro “José Costa – Parceiro do Futuro”, de autoria de Lígia Maria Leite Pereira, Maria Auxiliadora de Faria e Nair Costa Muls, publicado em 2007 pela Rona Editora. A obra traz, de forma detalhada, a trajetória de sucesso de José Costa e do próprio jornal.
Os anos 50 já começaram no Informador Comercial com a aquisição de uma impressora rotoplana Goss, que permitiu mais rapidez e produtividade ao jornal. A Goss tinha capacidade de imprimir até 5 mil exemplares por hora, usando bobina de papel. A oficina, que já contava com 11 funcionários, passou a ter três máquinas linotipos e a nova e moderna impressora. E, embora tenha sido substituída pelo jornal na década seguinte por algo bem mais moderno, a Goss foi o modelo mais usado em quase todos os grandes jornais do Brasil até meados da década de 70.
A então moderníssima impressora também permitiu evolução na diagramação e o aumento de oito para 12 páginas. A publicação passou a apresentar tamanho diferenciado, mais alto e mais estreito que o tabloide comum, mas menor que o formato standard (o atual formato). Ao título foi acrescentado o bordão “Um jornal independente”. E na capa, além da tradicional manchete, surgiu um sumário, intitulado de “Neste número”, indicando as reportagens e as páginas em que se encontravam.
As seções passaram a ser organizadas por temas: Informador na Contabilidade; Informador Forense, que trazia as subseções “Protestos” e “Justiça do Trabalho”; Informador Esportivo, praticamente voltado ao futebol; Notas Sociais; Câmbio, Bolsas e Mercado – era geralmente a décima página, que informava as demandas de importação de produtos do Brasil; Mercadorias, Imóveis, Lotações, Expediente da Junta Comercial e Oportunidades (vendas de equipamentos) ocupavam a décima primeira página.
Já a contracapa (décima segunda página) trazia novamente o título do jornal e as matérias de destaque, assim como as colunas “Política, Políticos & Politiquices”, “Pensa e diz” e “Notícias Políticas”, uma nova coluna.
No início de 1951, o jornal passou a ter sede própria, na rua Rio de Janeiro, esquina com Caetés, no centro da Capital. Edson Zenóbio chefiava a redação, que era constituída pelos repórteres Guilherme Apgáua, José Bento Teixeira de Salles e pelos redatores Antônio Costa e Elizeu Lopes. Todos tinham outros empregos em outros jornais ou em órgãos públicos para complementar a renda. Osório da Rocha Diniz continuava a escrever os editoriais. O jornal também contava com vários articulistas.
Na época da mudança da sede, José Costa determinou que a publicação apresentasse novidades. Edson Zenóbio fez algumas modificações, como o artigo do professor Antônio Lopes de Sá em página fixa, com uma foto abrindo a coluna; levou Mário Fontana para fazer uma coluna social, o “DC Sociedade” (Fontana usava o pseudônimo Brillat Savarin para assinar), e criou o “DC Confidencial”, coluna onde Zenóbio e Costa davam furos de reportagem em relação a negócios e ações políticas.
A parceria com as entidades em prol do desenvolvimento econômico de Minas Gerais continuava. Um exemplo foram as homenagens prestadas pelo jornal aos 50 anos da Associação Comercial e Empresarial de Minas (ACMinas) em janeiro de 1951.
O jornal também se colocou à disposição da União dos Varejistas de Minas Gerais (UVMG) e dos pequenos comerciantes em busca de soluções durante a crise de abastecimento de alimentos que afetou a população de BH por quase toda a década e também na ocasião da enchente do ribeirão Arrudas, que arrasou a Feira de Produtores.
No ano de 1950, o jornal tratou amplamente das eleições presidenciais, principalmente na coluna “Política, Políticos & Politiquices”. Falava dos acordos entre os diferentes grupos da UDN e do PSD e tratava como algo sem esperança a candidatura de Getúlio Vargas – que surpreendeu analistas da época ao vencer o pleito.
Na avaliação do editorialista Osório da Rocha Diniz, os candidatos perdedores não souberam explorar falhas do governo anterior, como a política deflacionista, a proibição das exportações de tecidos, os problemas da pecuária e a liberdade para as importações, como Getúlio. Por esse detalhe, “o ex-ditador voltou ao poder”, escreveu Diniz.
Apesar de sempre apontar falhas na forma de governar de Getúlio, o caráter nacionalista do presidente era bem avaliado pelo jornal. Um exemplo foi na criação da Petrobras, em 1951. As discussões que antecederam a aprovação da companhia como estatal pelo Congresso estiveram presentes por diversas edições. Osório da Rocha Diniz alertava sobre os riscos de o governo ceder à pressão do capital internacional e entregar a exploração do petróleo brasileiro a estrangeiros. Nesse caso, em vários editoriais, o jornal defendia o posicionamento nacionalista do governo Vargas.
Porém, o Informador Comercial criticava bastante o presidente por outras decisões, principalmente aquelas relacionadas à expansão da geração de energia elétrica. O descaso de Vargas com a possibilidade de produção de álcool anidro também foi apontado. Ocorreram ainda duras críticas à Instrução 70 da Superintendência de Moeda de Crédito (Sumoc), que inaugurou um sistema de taxas de câmbio variadas.
A crise de abastecimento e a alta dos preços de produtos básicos que afetava principalmente as classes mais pobres eram recorrentemente apontadas pelo Informador Comercial. Os quebra-quebras em Belo Horizonte e em Curitiba, em 1952, foram apontados como sinais de descontentamento do povo. O jornal também alertava as classes produtoras em relação a uma possível articulação do então ministro do Trabalho de Vargas, João Goulart, na questão da sindicalização das massas rurais como artifício “para possibilitar o continuísmo getulista”.
Apesar de todas as críticas, o jornal se manifestou radicalmente contra a renúncia do presidente, pois isso “feriria gravemente o regime democrático”. A notícia do suicídio de Vargas foi comentada com grande consternação.
No governo Café Filho, o Informador criticou duramente a política liberal de Eugênio Gudin. Sobre isso, em um editorial publicado em 29 de dezembro de 1954, Osório da Rocha Diniz lembrava que todas as nações desenvolvidas foram protecionistas um dia.
Progressista, o Informador Comercial apoiou a política de avanço econômico de Juscelino Kubitschek desde quando ele era governador de Minas. Mas sempre alertava sobre o risco que a entrada de capital estrangeiro poderia representar para o País. As vitórias de JK na Presidência e de Bias Fortes no governo de Minas foram vistas com esperança. Era um sinal de que “o País não vai parar como queriam os senhores Oswaldo Aranha, Gudin e Café Filho”, afirmava Osório da Rocha Diniz em editorial.
As pressões estrangeiras em setores básicos da economia continuavam a ser denunciadas pelo Informador. Isso foi apontado em relação à pressão pela saída do coronel Janary Nunes da presidência da Petrobras, exatamente pelo caráter nacionalista de Nunes. Também foi mostrado em relação às dificuldades criadas pelo capital estrangeiro para que o projeto de uma siderúrgica em Minas – que viria a ser a Usiminas – viesse a acontecer.
Aliás, bem antes do anúncio da Usiminas, indícios de que o governo federal pretendia implantar uma grande siderúrgica no Estado foram apontados pelo jornal. Um deles, segundo Osório da Rocha Diniz, foi o discurso do governador Bias Fortes no Fórum Econômico realizado pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) em 5 de abril de 1956, que dizia que Minas tinha que industrializar as riquezas de seu subsolo.
Outro indício, conforme o editorial, foi a afirmação feita pelo então presidente da CSN, general Macedo Soares, de que o Brasil não poderia ter apenas uma siderúrgica, em conferência no dia 11 de abril do mesmo ano na Sociedade Mineira de Engenharia (SME). Onze dias depois, no início das operações da Mannesmann, o presidente JK prometia a instalação de uma grande siderúrgica em Minas Gerais.
Nesse mesmo período, o jornal noticiava a chegada de industriais japoneses e de diretores da Cosipa a Belo Horizonte para uma reunião com o governador Bias Fortes. Em junho de 1957, a publicação enfim anunciava a assinatura do acordo que dava origem a joint venture Brasil/Japão para a construção da Usiminas no Vale do Aço.
O Plano de Metas de JK foi elogiado pelo jornal em todas as 31 metas. O Informador noticiava as negociações internacionais do presidente para o financiamento e aquisição de equipamentos e bens de produção para a implantação da indústria automotiva no País. Mas, nesse contexto de abertura ao capital estrangeiro, a publicação sempre alertava para a necessidade de as negociações serem sempre precedidas de estudos aprofundados, para se evitar armadilhas à indústria nacional.
Em 1957, o jornal divulgou o “escândalo do imposto sindical” – o desvio da contribuição de milhões de trabalhadores por alguns políticos, principalmente membros do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB).
No mesmo ano, a criação de dois postos de abastecimento de alimentos pelo então secretário de Estado da Agricultura, Álvaro Marcílio, que visava ao barateamento de alguns produtos, foi elogiada pelo jornal, que, na mesma edição, criticou duramente um projeto de aumento de impostos do governo Bias Fortes.
Em 1958, artigo de Osny Duarte Pereira foi contra a política de o Brasil vender por preço irrisório matérias-primas essenciais à indústria de base e de se submeter ao monopólio dos Estados Unidos em relação ao ferro e ao manganês.
Na questão ambiental, o jornal sempre denunciava interesses de vários países na Amazônia e defendia uma política pública para a região. Isso fica claro, por exemplo, em artigo de Osório da Rocha Diniz publicado em 1º de maio de 1957.
Em 1959, o Informador retomou a campanha pela criação de uma refinaria de petróleo em Minas e pela construção de um oleoduto Rio-BH. Osório da Rocha Diniz foi designado pelo governador para presidir uma comissão para tratar do assunto.