Home >> Há 90 Anos >> Avanço gráfico ocorre em um período conturbado
O Informador Commercial se consolida como jornal especializado em economia na década de 40
Por: Sandra Carvalho Em 19 de julho de 2022
A década de 1940 foi um período de grandes transformações para o Informador Commercial, hoje DIÁRIO DO COMÉRCIO. O jornal inovou com mudanças gráficas e editoriais, mas se manteve firme no propósito de debater os rumos do desenvolvimento e de defender o planejamento econômico como saída para os problemas sociais do País. O antigo boletim fundado em 1932 por José Costa terminou os anos 40 como um respeitado jornal especializado em economia.
As informações descritas a seguir são baseadas no livro “José Costa – Parceiro do Futuro”, de autoria de Lígia Maria Leite Pereira, Maria Auxiliadora de Faria e Nair Costa Muls, publicado em 2007, pela Rona Editora.
Os temas tratados pelo Informador Commercial na década de 1940 eram sempre ligados à economia e à política. Mas, na primeira metade da década, foi preciso cuidado em relação à censura imposta aos jornais pela ditadura Vargas no regime do Estado Novo. Foi um período em que o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) controlava o conteúdo das publicações e fechava jornais, caso os veículos contrariassem o governo federal. José Costa e equipe se desdobravam para tratar dos temas econômicos e driblar a censura nas questões mais polêmicas.
O cenário internacional e a Segunda Guerra Mundial foram abordados em muitos editoriais. A necessidade da ampliação da siderurgia em Minas era amplamente defendida, uma vez que a produção da Belgo Mineira, em Sabará, mostrava-se pequena diante da grande demanda gerada pela guerra.
Nesse cenário, o jornal comemorou em editoriais o acordo entre os governos do Brasil e dos Estados Unidos, que previam empréstimos do país norte-americano para a expansão da siderurgia brasileira. Mesmo com as muitas defesas da publicação para a instalação de uma planta siderúrgica em Minas, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) acabou sendo implantada por Getúlio Vargas na cidade de Volta Redonda (RJ).
Apesar de não se manifestar claramente contra a instalação da CSN em Volta Redonda, em razão da censura, o jornal encontrou uma forma de transmitir isso afirmando que a Belgo Mineira, ao lado da siderúrgica instalada em João Monlevade e o distrito industrial em Contagem não eram suficientes para alavancar a indústria mineira e apontava a necessidade de mais investimentos no Estado.
A instituição do salário mínimo para aumentar o poder aquisitivo da população brasileira, como forma de ampliar o mercado interno e fazer a economia crescer, era defendida nos editoriais. O economista e professor Osório da Rocha Diniz enfatizava ainda a necessidade de qualificação de mão de obra, com a criação de institutos técnicos por parte dos governos para o processo de industrialização no Estado.
Também era apontada a necessidade de melhorias no fornecimento de energia elétrica, tendo o jornal feito duras críticas à companhia Força e Luz e a outras companhias controladas por estrangeiros, que não investiam na ampliação e melhora do serviço e cobravam tarifas elevadas.
O jornal comemorou, no início dos anos de 1940, o crescimento da produção agrícola e manufatureira no Brasil, que já atendiam a 100% das necessidades do País em relação a fósforos, calçados, conservas, chapéus, produtos lácteos e mobiliário; a 95% da demanda por fumo e têxteis; a 85% em ferragens; e a 80% em sal, perfumes e outros artigos.
Mas, ao mesmo tempo, apontava a necessidade do aumento na produção de ferro e da siderurgia. Apontava, com muita frequência, a necessidade de melhoria nas estradas e meios de transporte como fatores essenciais para se reduzir o custo dos produtos.
O racionamento de gasolina, uma medida adotada no governo Vargas em razão das dificuldades de se importar combustível nos anos de guerra, fez com que o jornal incentivasse em seus editoriais a pesquisa do álcool para ser usado nos motores à explosão e também do gasogênio, fabricado a partir da queima de carvão vegetal.
Nesse sentido, o Informador Commercial a apoiou campanha da União dos Varejistas de Minas Gerais (UVMG) para criar um Conselho Nacional de Carburantes. O objetivo era fomentar a produção de álcool e derivados de petróleo e que o álcool fosse escolhido como principal combustível nacional.
Em 1949, a publicação de José Costa denunciou a descoberta de petróleo em Campos (RJ) por geólogos norte-americanos, do Departamento de Minas dos EUA, alertando para os riscos de entrega da exploração aos grandes trustes internacionais.
Na época da guerra, houve uma crise no abastecimento de alimentos da população brasileira em função de problemas de transporte em navios na costa brasileira, alguns bombardeados supostamente pelos países do Eixo, o que limitou o tráfego e encareceu o frete. O jornal apontou o problema e chegou a criticar abertamente a falta de iniciativa de entidades representativas do setor produtivo na cobrança de medidas do poder público para resolver a situação, que atingiu primeiramente os mais pobres.
Em 1944, o Informador também abordou a questão agrária, a partir da assinatura do Decreto de Sindicalização Rural. O jornal denunciava que a sindicalização era controlada pelos produtores e apontava para a necessidade de difusão do ensino no campo.
Com a censura amenizada em 1945, o Informador Commercial posicionou-se ativamente no debate político “Os ditadores caíram na Europa e não é justo que o Brasil continue a seguir métodos usados nos regimes de força”, dizia o editorial de 18 de fevereiro de 1945. “Quando falamos em política, não tomamos partido deste ou daquele candidato. Estamos cumprindo, com altivez, sem nenhum compromisso, a missão esclarecedora da imprensa, sempre alerta no dever de criticar ou de aplaudir”, afirmava o editorial de 7 de março do mesmo ano.
O Informador Commercial publicou artigo assinado por José de Magalhães Pinto conclamando as classes produtoras pelo fim da ditadura e a participarem das eleições diretas votando no brigadeiro Eduardo Gomes, que perdeu a disputa para o general Eurico Gaspar Dutra. Já sem censura do governo, o jornal comentou o discurso de Luiz Carlos Prestes, após sua anistia pelo governo Vargas. Segundo o Informador, o líder da esquerda fazia um discurso sereno e objetivo, mencionando os principais problemas da economia brasileira.
Em 1947, apareceram os primeiros anúncios de candidatos a vereadores com fotos.
A década de 1940 foi de muitas mudanças tecnológicas e editoriais no Informador Commercial, hoje DIÁRIO DO COMÉRCIO. Logo no início do período, José Costa adquiriu o primeiro mimeógrafo elétrico, de fabricação alemã. Pouco tempo depois, veio a primeira linotipo, que possibilitava tanto a impressão em mimeógrafo quanto a tipográfica. Logo em seguida, ele comprou a impressora da marca Multilite, capaz de imprimir folha por folha, usando chapa de alumínio.
Em março de 1943, o jornal apresentou modificações gráficas. O título se tornou maior e sofisticado para a época, acompanhado de uma ilustração que dava ideia de progresso: ao fundo, edifícios altos e na frente desses edifícios, um trem atravessa a paisagem. Em segundo plano, aparecia um porto com um navio atracado. A imagem do globo terrestre pairava no centro. Abaixo da ilustração, vinha o bordão: “Onze anos de serviços ininterruptos e relevantes serviços prestados à indústria e ao comércio.
Às colunas, vieram se somar “Relação de Hóspedes”, que informava quem se hospedava onde em BH; “Aviões”, que trazia o horário dos voos e a lista de passageiros; “Departamento de Compras”, que noticiava demandas e concorrências do setor público; “Atos do Governo”; e “Notícias” sobre assuntos econômicos de interesse em geral. A seção sobre títulos protestados ganhou o nome de “Cartórios”. As coberturas de ações das entidades de classe viraram “Notícias da ACMinas e Cobertura da União dos Varejistas”.
O jornal também passou a noticiar as autorizações governamentais para a exploração mineral em municípios mineiros.
Em 1943, o “Comentário do Dia” foi desdobrado entre os editoriais e o “Panorama Nacional”, assinado por Osório da Rocha Diniz. Também foi incorporada a coluna “Panorama Internacional”, assinada pelo português radicado no Brasil Pedro Patrício Monteiro, amigo de José Costa. Monteiro tratava sobre a guerra e denunciava a invasão dos trustes e cartéis nos mercados mundiais.
Na mesma época, o jornalista Washington Albino foi contratado, dando origem a novas colunas. Uma delas, “Pensa e diz” era assinada pelo pseudônimo “O Homem da Rua”, de Washington Albino. Foi uma forma de abordar questões do dia a dia da produção mineira e ao mesmo tempo ser porta-voz dos comerciantes, driblando a censura do governo Vargas, ao se apresentar no formato de crônica diária.
Em 1944, José Costa adquiriu uma pequena máquina plana, da marca Planeta, com capacidade de imprimir simultaneamente duas páginas tamanho ofício. Foi o fim das páginas mimeografadas, substituídas definitivamente pelo processo de composição e impressão. Com a reforma ortográfica da língua portuguesa, suprimiu um dos M da palavra comercial, e o nome ficou “Informador Comercial”.
Em março de 1946, três novas colunas foram incorporadas: “Pelas Associações de Classe”, “Na Constituinte” e “Notas Internacionais”, que substituiu a coluna “Panorama Internacional”. Em agosto deste mesmo ano, das 14 páginas do jornal, oito eram dedicadas ao conteúdo jornalístico. O jornal ainda tinha anúncios na primeira e na última página, mas o espaço comercial cada vez mais tomava as páginas internas, intercalado com o conteúdo jornalístico.
Em 1947, houve a aquisição da Marinoni, formato AA, uma impressora de segunda mão comprada em Juiz de Fora. Isso exigiu novas reformulações gráficas. A primeira delas foi a mudança de formato para tabloide, com folhas maiores e mais largas divididas em quatro colunas. A primeira página já não era dedicada exclusivamente ao editorial e já trazia uma manchete, com a principal notícia do dia. O título passou a ser em letra cursiva.
Ainda em 1947, como estratégia para se firmar como um jornal de referência no cenário econômico, o nome “Informador Comercial” no alto da capa passou a ser seguido do subtítulo “Diário de Informações Comerciais”.
Em 1948 e 1949, com as páginas em cinco colunas, o número de seções aumentou. “Panorama econômico” abordava acontecimentos políticos e econômicos nacionais e internacionais. “Tópicos” noticiava temas de interesse dos setores produtivos. Destoando de todas as outras, “Canto Chorado” tinha um toque humorístico e apresentavam canções que “choravam” os problemas brasileiros. Também foram inauguradas as colunas “Imigrante”, que apresentava estrangeiros com experiência técnica em busca de trabalho; “Cinema”, que trazia críticas assinadas por Paulo Arbex; e “Notícias do Forum”, com informações sobre processos.