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Lançado em 1932, o Informador Commercial, atual DC, passou por importantes transformações ao longo da década
Por: root_hotsite_dc Em 14 de julho de 2022
Foi na efervescência de todas as apreensões geradas pela Revolução de 1930 e a depressão econômica mundial de 1929 – nesse cenário que foi um divisor entre o Brasil essencialmente agrário e o Brasil industrial que despontava – que nasceu o Informador Commercial, hoje DIÁRIO DO COMÉRCIO. O jornal surgiu em outubro de 1932 como um boletim de prestação de serviços aos comerciantes.
Mas o senso de realidade aguçado, advindo das experiências de José Costa tanto no campo do emprego quanto no campo empresarial, deu a ele a inspiração e a disposição necessárias para fazer da publicação muito mais que um informativo, mas uma ferramenta de indução ao desenvolvimento. O jornal surge como um simples informador de mercadorias, mas finaliza a década de 1930 como um importante formador de opinião sobre o cenário econômico.
As informações históricas descritas a seguir, neste especial comemorativo “Há 90 anos”, referem-se à trajetória do DC, ou melhor, do Informador Commercial, na década de 1930. Todos os dados desta reportagem foram coletados no livro “José Costa: parceiro do futuro”, de autoria de Lígia Maria Leite Pereira, Maria Auxiliadora de Faria e Nair Costa Muls, publicado pela Rona Editora em 2007.
Conforme a publicação, em 1930, aos 24 anos, José Costa desembarcou na estação ferroviária de Belo Horizonte, vindo de Niterói (RJ). O jovem representante comercial trazia consigo cartas de referência profissional e buscava oportunidades na capital mineira. Costa começou a trabalhar ainda criança em Niterói. Aos dez anos, já ajudava no sustento da família. Passou por diferentes ocupações, muitas vezes árduas, até chegar ao comércio e entrar para a representação comercial. Era exatamente essa a ocupação que vislumbrava ter em Belo Horizonte ao desembarcar do trem. Tinha na bagagem da vida também a militância pelos direitos dos trabalhadores do comércio em Niterói.
No ofício de representante comercial, com grande convivência no meio varejista e atacadista de BH, José Costa percebeu um gargalo que gerava prejuízos ao setor: a irregularidade das informações passadas pelos funcionários de armazéns das empresas ferroviárias. Como não conseguiam saber de forma imediata sobre a chegada aos trens da Estrada de Ferro Central do Brasil ou da Estrada de Ferro Oeste de Minas de mercadorias que tinham encomendado, os comerciantes eram obrigados a pagar elevadas taxas de armazenamento, o que encarecia o custo final dos produtos.
O boletim Informador Commercial havia sido recém-lançado pelas mãos de Armando Mendes, amigo de José Costa. Mas Mendes, em 1932, precisou mudar-se para o Rio de Janeiro e ofereceu ao amigo a oportunidade de assumir o jornal que se iniciava. José Costa tinha uma rápida experiência jornalística em Niterói, com uma coluna sindical no jornal “O Estado”. Ele viu nessa oferta de Mendes a oportunidade de implementar a ideia de informar aos comerciantes sobre a chegada das mercadorias à estação ferroviária.
Com tamanho de 32 cm de altura x 22 cm de largura, o jornal tinha um número pequeno de assinantes e compradores. A tiragem variava entre 600 e 700 exemplares. Era mimeografado. Costa fazia praticamente todos os processos, desde a coleta das informações até a entrega do boletim. Raramente contava com ajudantes.
Mas ele logo percebeu que o veículo poderia ser muito mais que um manifesto de mercadorias. Aos poucos, a diversidade de conteúdos foi aumentando. Passou a trazer informações governamentais, como decretos, leis e resoluções que interessavam às empresas; atos do Legislativo; comunicados de entidades empresariais e trabalhistas.
O boletim passou a cobrir as reuniões semanais da União dos Varejistas de Minas Gerais (UVMG) e atos da Associação Comercial e Empresarial de Minas (ACMinas), da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) e da Sociedade Mineira de Agricultura.
E em uma cidade onde o cinema era uma das poucas distrações, passou a ter uma coluna denominada “Filmes em cartaz”. Em 1933, o jornal iniciou também a publicação de falências e concordatas e a coluna “Eventos Importantes”, em que informava sobre reuniões e congressos.
Timidamente, as publicações de colunas e editoriais com debates sobre movimentos econômicos foram surgindo. Nesse mesmo ano, vieram as primeiras reportagens. A primeira relata uma visita técnica a uma fábrica da Aymoré em BH, com matéria detalhada sobre o processo fabril.
Os anúncios ocupavam quatro páginas nos primeiros anos. Entre eles, muitos são de empresas que resistiram ao tempo e estão na ativa até hoje, como, por exemplo, as Casas Pernambucanas, a Casa do Disco, a Casa Sales, a Belgo Mineira (hoje ArcelorMittal), Biotônico Fontoura, Casa Lunardi, entre outras.
Em 1934, em seu segundo aniversário, o Informador Commercial, hoje DIÁRIO DO COMÉRCIO, foi marcado por uma grande transformação. A edição comemorativa teve 34 páginas, com artigos de caráter econômico, e inaugurou uma fase de informação analítica da economia. O primeiro artigo dessa nova programação apresentada aos leitores teve o título “A indústria no Brasil”.
Foram criadas colunas de análises de desempenhos da economia brasileira, com dados estatísticos sobre os diversos setores produtivos. E ainda uma outra coluna intitulada “Problemas Econômicos”, que assumia o debate sobre a importância da industrialização.
Mas a prestação de serviços não deixou de ser privilegiada nas edições, pelo contrário, foi incrementada. No ano seguinte, foram incorporados conteúdos como a movimentação no mercado de cereais de BH, um indicador de fábricas atacadistas da Capital e do interior, informações sobre o mercado de gêneros alimentícios e a publicação de concorrências públicas.
Também em 1935, a propriedade do jornal passaria definitivamente para José Costa. Em dezembro desse mesmo ano, o Informador Commercial passou a contar com a colaboração de um dos mais renomados economistas mineiros da época: o professor Osório da Rocha Diniz. A parceria entre José Costa e Osório da Rocha Diniz durou cinco décadas e ajudou a manter o posicionamento do jornal a favor do desenvolvimento.
Com Diniz, o jornal apresenta aos leitores não apenas um pensamento analítico, mas também opinativo. Pela primeira vez, a publicação passou a ter um editorial que marcava seus posicionamentos diante dos fatos, intitulado “Comentário do Dia”, assinado pelo respeitado economista.
A pauta desenvolvimentista do jornal era baseada naquela época em três teses. Uma delas é de que a agricultura e a mineração são necessárias, mas o Brasil não poderia ter uma economia exclusivamente agrícola e exportadora de recursos minerais, alimentando os países industriais e deles dependendo economicamente.
A segunda tese é a defesa da industrialização como saída para o desenvolvimento econômico e progresso agrícola com a fabricação de máquinas e equipamentos. E a terceira é a exploração das jazidas de ferro e petróleo não pura e simplesmente para a exportação, mas para a implantação de um complexo siderúrgico nacional.
O jornal exigia posicionamentos dos governos em relação à implantação da siderurgia. Também denunciava o entreguismo de recursos minerais bem como da oportunidade de implantar um parque siderúrgico ao capital estrangeiro. Isso em função do contrato de concessão à Itabira Iron Company, finalmente cancelado pelo governo brasileiro em 1939.
A questão do petróleo foi abordada pela primeira vez em 1936, com a transcrição de um artigo do Jornal do Comércio, do Rio de Janeiro, que apontava o Ministério da Agricultura como incompetente na prospecção de petróleo. Em 1939, quando o petróleo foi encontrado em solo brasileiro, o jornal firmou posição no reforço dos serviços de sondagem em outras regiões do País. Também cobrou do governo federal a urgência da criação de refinarias e usinas de beneficiamento.
Osório da Rocha Diniz também era enfático ao defender em seus “Comentários do Dia” o crescimento do consumo interno e o desenvolvimento das várias regiões brasileiras para que “o Brasil produzisse para o Brasil”.
Sofrendo os efeitos da crise de 1929, que abalou a estrutura econômica do mundo, as classes produtoras mineiras se organizaram em entidades representativas ao longo da década de 1930. Importantes entidades que sobrevivem até hoje surgiram nesse contexto.
Nesta época, a Associação Comercial e Empresarial de Minas (ACMinas), que já contava com quase três décadas de existência, assumia importante papel nos debates e projetos para o progresso do Estado. Também bastante atuante nos debates era a Sociedade Mineira de Agricultura, bem como grupos de engenheiros oriundos da Escola de Minas de Ouro Preto.
Já a União dos Varejistas de Minas Gerais (UVMG) foi criada exatamente em 1930 para defender os interesses do comércio local. O primeiro presidente foi o comerciante João Ferreira Porto Filho, um dos primeiros varejistas de Belo Horizonte. Também fazia parte do grupo Pedro Aleixo, que se encarregou de redigir o estatuto da entidade. As reuniões dos comerciantes não se limitaram ao setor varejista e passaram a encampar importantes campanhas pelo desenvolvimento econômico do Estado.
Em 1933, representantes de sete sindicatos mineiros se uniram e fundaram a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg). A entidade era liderada por Américo Renê Gianneti, industrial que fundou em Ouro Preto a primeira fábrica de alumínio no Brasil; Euvaldo Lodi, político, engenheiro e industrial do ramo da siderurgia; e o empresário Alvimar Carneiro de Rezende, também engenheiro com importante atuação no setor de obras.
A relação do Informador Commercial com as entidades de classe – sobretudo UVMG e ACMinas – era uma relação de mão dupla. José Costa, como membro das diretorias das duas casas, já na segunda metade da década de 1930, apresentava suas teses nas reuniões, participava dos debates, exigia posicionamentos e fazia do seu jornal um porta-voz das reivindicações das classes produtoras.