Home >> Quem Fez História >> Gerdau: empresa gaúcha, mas quase mineira
Desde 1988, Minas Gerais vem se tornando protagonista na trajetória de uma das principais siderúrgicas do País
Por: Sandra Carvalho Em 29 de novembro de 2022
A Gerdau, fundada há mais de 121 anos em Porto Alegre (RS), tem em Minas Gerais os acontecimentos mais importantes de sua história contemporânea. A empresa opera no Estado desde o final dos anos de 1980. Em quase 35 anos, Minas tornou-se protagonista nos resultados da companhia gaúcha, respondendo atualmente por 70% da produção total (13,3 milhões de toneladas de aço em 2021) e gerando 11 mil (ou 64%) dos cerca de 17 mil empregos diretos da empresa no Brasil. A história de sucesso dessa mistura de chimarrão com pão de queijo no setor siderúrgico é tema desta última reportagem da série “Quem fez História”.
A série é um presente do DIÁRIO DO COMÉRCIO a leitores e espectadores em comemoração aos 90 anos do jornal. O objetivo é contar como empresas longevas resistiram ao tempo e tiveram relevância para o desenvolvimento econômico do Estado. Histórias de várias empresas podem ser acessadas nos canais do DC.
“Minas é hoje a principal base produtiva e de crescimento da Gerdau”, definiu o diretor-executivo da companhia, Wendel Gomes, em entrevista exclusiva ao DC, em vídeo.
Segundo Gomes, a trajetória da Gerdau em Minas começou em 1988. “O primeiro passo foi a compra da Cimetal, em Barão de Cocais (região Central do Estado), um alto-forno a carvão vegetal, com uma importante linha de produtos de grande valor agregado. Foi essa aquisição que nos colocou em contato com a questão das florestas”, informou.
A Cimetal foi criada em 1923, sob o nome de Usina Morro Grande, pelos engenheiros paulistas Adriano Saldanha e Heitor Saldanha. Em 1925, foi vendida a um grupo do Rio de Janeiro, quando tornou-se Companhia Brasileira de Usinas Metalúrgicas (CBUM). Na década de 1970, a CBUM foi vendida ao Grupo Bozano-Simonsen, que, poucos anos depois, repassou a empresa para a Cimetal Siderurgia S/A poucos. Até que, em 1988, a usina foi adquirida pela Gerdau.
A segunda aquisição da Gerdau em Minas ocorreu em 1994. Foi a Companhia Siderúrgica Pains, em Divinópolis, no Centro-Oeste do Estado. “Já era uma usina tradicional no Estado, com porte maior”, relatou o diretor-executivo. A Siderúrgica Pains foi fundada na década de 1950 pelo ex-prefeito de Divinópolis, Jovelino Rabelo, e alguns sócios, e vinha apresentando relevante participação no setor siderúrgico do Estado.
A terceira mais importante aquisição da Gerdau em Minas e talvez a que mais intensificou as operações da companhia gaúcha no Estado ocorreu no ano de 1997, quando a empresa passou a investir na Açominas, siderúrgica localizada em Ouro Branco e com operações na vizinha Congonhas, também na região Central. “A Gerdau começou a aumentar a participação na Açominas, que havia sido privatizada anos antes, até ter o controle completo da empresa alguns anos depois.”
A Açominas era uma estatal criada no final dos anos de 1970 pelo governo militar. As operações da siderúrgica tiveram início nos anos de 1980, mas, já no início dos anos de 1990, foi incluída no programa e privatizações de empresas públicas, iniciado pelo então presidente da República, Fernando Collor de Mello (PRN), e concluído no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) anos depois.
“A Açominas mudou a história da Gerdau e a Gerdau mudou a história da Açominas”, destacou Wendel Gomes. Isso porque, segundo o executivo, a siderúrgica de Ouro Branco tinha um modelo de produção e exportação de aços semiacabados. Com a entrada da Gerdau, esse modelo foi alterado. “Passamos a investir na produção de itens de maior valor agregado (…) Hoje (a Açominas) está conseguindo fazer acabamento de praticamente toda a capacidade, e a meta é ter só produtos acabados”, adiantou.
A Gerdau também fez um aumento na capacidade produtiva da siderúrgica. “Era um alto-forno. Hoje são dois, com capacidades de 2,5 milhões e 1,5 milhão de toneladas de aço plano por ano”.
Em 2008, a companhia adquiriu três altos-fornos em Sete Lagoas, ainda na região Central de Minas, para a produção de gusa.
Hoje, no Estado, a Gerdau conta com quatro usinas siderúrgicas (Barão de Cocais, Divinópolis, Ouro Branco e Sete Lagoas), unidades de mineração em Miguel Burnier (Ouro Preto) e Várzea do Lopes (Itabirito), além da unidade Florestal, com sede em Três Marias.
A mineração entrou na história da Gerdau no início dos anos 2000, quando foram adquiridas duas minas, uma em Miguel Burnier (Itabirito) e outra em Várzea do Lopes (Ouro Preto).
“Compramos os ativos minerais para diversificar os investimentos e também para verticalizar a produção. Já tínhamos essa experiência de verticalização nas florestas de eucalipto dando certo e a reproduzimos na mineração. O foco da extração mineral é somente para as operações da companhia. Não há atividade significativa de venda de minério de ferro, mas sim de verticalização”, relatou Gomes.
Isso significa que praticamente todo o minério produzido vai para as usinas, abastecendo Ouro Branco, por exemplo, em 65%, e outras usinas em 50%. “A produção de minério começou em 2004 e hoje é um grande fator de competitividade da Gerdau”, destacou.
O diretor-executivo acrescentou que a companhia teve em toda a sua história no setor mineral duas barragens de rejeitos minerais alteadas a montante. “A primeira foi descaracterizada na virada de 2018 para 2019. E a segunda está em processo de descaracterização, que deve ser finalizado de 2022 para 2023. Hoje, trabalhamos com 75% dos rejeitos a seco e, em breve, teremos 100%. O objetivo é estar já no início do próximo ano sem barragens”, informou.
Outra atividade que faz parte da história da Gerdau em Minas Gerais, há mais de três décadas, é a produção de carvão vegetal, que é a maior do mundo. São mais de 250 mil hectares de base florestal no Estado, voltadas à verticalização, ou seja, a empresa produz insumos para a própria empresa.
“A Gerdau teve contato com esse universo da produção do carvão vegetal já em 1988, através da usina de Barão de Cocais. E desde então vem trabalhando a produção com um aspecto social e ambiental muito relevantes, ao não permitir o uso de florestas nativas e ao incentivar o plantio das florestas próprias”, informou o diretor-executivo da Gerdau, Wendel Gomes.
Segundo ele, a cobertura florestal foi aumentando conforme foi crescendo a demanda da empresa nas plantas de Sete Lagoas e Divinópolis.
Todos os 250 mil hectares de florestas de eucalipto ficam em cidades do Norte do Estado, onde também está localizada uma área de preservação que a companhia mantém. Trata-se de uma extensão de 91 mil hectares preservados de vários tipos de vegetação.
A companhia tem como meta neutralizar as emissões de carbono e um dos caminhos é aumentar essa área de florestas plantadas. Essa ação é integrada a outras como uso racional de água e energia. “A Gerdau possui uma das menores médias de emissão de gases de efeito estufa (CO₂e), de 0,93 t de CO₂e por tonelada de aço, o que representa aproximadamente a metade da média global do setor, de 1,89 t de CO₂e por tonelada de aço”, informou.
O diretor-executivo também destacou que “a descarbonização está no DNA da companhia que sempre trabalhou com a reciclagem do aço”. Segundo ele, a Gerdau tem na sucata uma importante matéria-prima: 71% do aço que produz é feito a partir desse material. Todo ano, 11 milhões de toneladas de sucata são transformadas em diversos produtos de aço.
Gomes acrescentou que a descarbonização está, inclusive, na remuneração de executivos há dois anos, juntamente com outras pautas como diversidade e inclusão, com o aumento da participação de mulheres, negros e LGBTQIA+ nas lideranças.
O recente capítulo da Covid-19 na história da Gerdau incluiu desafios internos e externos, segundo o diretor-executivo, que destacou ações voltadas à responsabilidade social da empresa.
“Nossas atividades foram caracterizadas como essenciais na primeira hora. Houve uma redução de produção naqueles primeiros meses, mas na sequência veio um aquecimento do mercado. Nosso ‘mantra’ interno era transformar a empresa em um local de acolhimento e prevenção à Covid. Houve apoio psicológico aos colaboradores e famílias. Tivemos alguns transtornos no primeiro ano (2020) com falta de mão de obra e chegamos a ter alguns atrasos de entrega. Mas, passada essa fase inicial difícil da pandemia, as coisas foram andando bem”, relatou.
No lado social, a companhia focou, em todas as cidades onde atua no mundo, com diversas ações como construção e reforma de hospitais, utilizando métodos de construção ágil com estruturas de aço. Conselheiro Lafaiete e Ouro Branco foram cidades contempladas.
“O objetivo foi ajudar no atendimento emergencial para pacientes com Covid nas cidades onde atuamos e também fazer doações para minimizar e reverter os efeitos da pandemia. Toda boa iniciativa que a gente identificou no mercado a gente trouxe para a empresa e buscou aplicar”, contou.
Sobre o futuro em Minas Gerais, a Gerdau prevê investimentos, conforme Wendel Gomes. Foi anunciado em 2021 um aporte de R$ 6 bilhões no Estado. Desses, R$ 2 bilhões foram executados e os R$ 4 bilhões que faltam estão mantidos.“São investimentos no aumento da carteira de produtos. E o principal deles é o laminador de tiras a quente número 2, em Ouro Branco, que já está sendo executado.
O segundo pilar é de competitividade da cadeia de suprimentos, de matéria-prima. A principal ação é o aumento da cobertura das florestas de eucalipto, que já está em curso.
E o terceiro é de modernização, voltado à tecnologia e eficiência. Nesse terceiro pilar, já ocorreram duas grandes reformas nas plantas de Divinópolis e Ouro Branco (…) Minas é uma base para o crescimento da empresa”, finalizou.
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