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Jornal aprimora cobertura e se torna referência para decisões do setor econômico na década de 1970; novo produto surge no mercado
Por: Sandra Carvalho Em 30 de agosto de 2022
O DIÁRIO DO COMÉRCIO inicia a década de 1970 já como uma importante referência para decisões do setor econômico em Minas Gerais. Dos pontos de vista gerencial, comercial, industrial e editorial, o jornal estava bem organizado e estruturado, com grandes possibilidades de crescimento.
É neste período que o perfil da equipe de redação muda, com a admissão dos primeiros profissionais graduados em jornalismo. A cobertura é repensada e adquire maior objetividade, sem perder o foco em estimular o desenvolvimento econômico do Estado. Também é nos anos de 1970 que nasce uma publicação “irmã” do DC: o Jornal De Casa.
As informações a seguir são baseadas em entrevistas com o presidente do Conselho Gestor do Jornal, Luiz Carlos Motta Costa, que chefiou a redação no período, e no livro “José Costa – Parceiro do Futuro”, de autoria de Lígia Maria Leite Pereira, Maria Auxiliadora de Faria e Nair Costa Muls, lançado em 2007 pela Rona Editora.
Em relação ao conteúdo jornalístico, o eixo central das preocupações do jornal nos anos de 1971 a 1976 girou em torno da implantação em Minas de um polo siderúrgico, fundamental para o desenvolvimento do País naquele momento e para assegurar ao Estado um lugar definitivo na industrialização brasileira. Até ali, Minas contava com as siderúrgicas Belgo e Usiminas. “O projeto da Açominas, desde sua fase embrionária, era acompanhado passo a passo pela equipe de reportagem. Nós informamos exaustivamente todas as decisões”, relembrou Luiz Carlos.
A meta do governo Médici de atingir a produção nacional de 20 toneladas de aço até 1980 foi elogiada pela publicação em artigos e editoriais. O jornal também alertava para o “imperialismo interno”, que “impedia Minas de se tornar um poderoso núcleo da siderurgia nacional”, ao noticiar posicionamento da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Minas Gerais (Fecomércio-MG) sobre a questão. Destaque também para a implantação da fábrica da Fiat em Betim.
Editoriais do ano de 1975 elogiavam ações que mostravam disposição do governo do general Ernesto Geisel em efetivar a abertura política do País, restabelecendo o diálogo com vários setores da sociedade. As críticas ao regime militar se limitavam à economia. O jornal fazia alertas a governos e gestores para que interesses do capital estrangeiro e de empresas não se sobrepusessem aos interesses desenvolvimentistas.
Foi no início dos anos de 1970, quando o jornalista Luiz Carlos Motta Costa, filho de José Costa, passou a chefiar a redação que começaram a chegar os primeiros graduados em jornalismo. A formação na área trouxe técnicas e mudanças no fazer jornalístico. Novos articulistas surgiram, mas a parceria com o editorialista Osório da Rocha Diniz continuava. O DC também foi um dos primeiros jornais mineiros a contratar mulheres para funções jornalísticas. Infelizmente, isso ainda não era comum e a presença masculina dominava as redações. A primeira a ser contratada foi Heloísa Machado.
Outro importante passo foi dado em 1977, quando o DIÁRIO DO COMÉRCIO teve uma reformulação editorial, capitaneada por Guy de Almeida, que retornava a Belo Horizonte depois de quase 11 anos de exílio no Chile e no Peru.
Ele atualizou a linha editorial de modo que o jornal pudesse responder à necessidade crescente de informação econômica, entrelaçando aspectos regionais, nacionais, internacionais, econômicos e políticos. A atualização também respondia à crescente penetração em Minas Gerais de jornais paulistas e cariocas especializados em economia.
As modificações foram feitas de forma a se adotar o máximo de objetividade na informação; uma cobertura ampla de todos os acontecimentos que interferem direta ou indiretamente no setor econômico; rigor no levantamento de dados e cifras; e maior dinamização da prestação de serviços, com atualização máxima de informações sobre concorrências, oportunidades comerciais, legislação, calendários tributários, Justiça do Trabalho, entre outras.
Um caderno especial, analítico, publicado em novembro de 1979, que traz um diagnóstico da economia do Estado, apresenta claramente essas mudanças.
Além de mudanças na redação e na cobertura, o DIÁRIO DO COMÉRCIO passou por algumas mudanças físicas, que possibilitaram aumento de capacidade nos anos de 1970.
Até 1975, o jornal funcionava em dois locais diferentes. A redação e o escritório ocupavam um andar do Edifício Elisa Levy, na rua Rio de Janeiro, no centro de Belo Horizonte. Já a oficina ficava nos fundos da residência de José Costa, no bairro Sagrada Família.
Foi em 1975 que a empresa deu mais um importante passo e adquiriu um edifício na rua Padre Rolim, na área hospitalar, para onde se mudou no ano seguinte, unificando todos os processos. Porém, dois anos depois, após a criação do Jornal de Casa, aquela estrutura já seria insuficiente para as operações.
Também houve a aquisição de novos equipamentos, que melhoraram a qualidade do impresso. Em 1972 foram comprados dois computadores de composição Fototronik, que substituíram o trabalho de três fotocompositoras ATF e sete perfuradoras. Em 1973, foi adquirido um sistema PMT, que fazia a fotografia da página a ser impressa por uma câmera Ravena SEL 75, pré-reticulada. Fotografava-se o original e fazia a chapa. Essa máquina teve curta duração, pois as inovações eram rapidamente superadas.
Em 1975, começaram as pesquisas para uma possível informatização do jornal. O então chefe de redação, Luiz Carlos Motta Costa, foi a Washington conhecer um sistema novo, integrado, que permitiria agilização do processo de produção. Era o início da era da informática. Naquele sistema, adaptavam-se computadores. Como eram muitas adaptações, eram constantes os imprevistos e perdiam-se muitas matérias.
“Visitei um jornal que estava com tecnologia nova e redação informatizada. Fomos recebidos pelo editor internacional, que estava completamente louco, pois tinha mandado um correspondente ao Oriente Médio. O repórter enviou a matéria, mas ela estava perdida no computador. O sistema tinha problemas de arquivo e memória e não seria um bom investimento. Desistimos da compra”, contou Luiz Carlos. A sonhada informatização viria para o DC somente na década seguinte.
Em 1976, foi a vez da aquisição de uma processadora de filmes Kodalith 324, que revelava os rolos de filme em apenas seis minutos.
Em 1978, houve um aumento de capacidade de impressão no sistema offset, com a aquisição de uma impressora Goss community SC. Essa unidade tinha 17 metros de comprimento e 2,5 metros de largura. Era composta por cinco unidades de impressoras e uma dobradeira. Era capaz de imprimir 35 mil exemplares de jornal por hora e cerca de 500 mil exemplares por dia. No término, a dobradeira cortava a fita impressa, dobrava e liberava o jornal. Também possibilitou a policromia nas páginas. (SC)
Belo Horizonte se transformava na década de 1970. Com a retomada do desenvolvimento econômico do País, a Capital assume de vez sua função de grande metrópole, com um crescimento associado aos municípios do entorno. Populosa, a cidade abria espaço também para um outro tipo de jornal, de anúncios e variedades, destinado às famílias. José Costa teve essa percepção e lançou em 1976 o Jornal de Casa, o “irmão” do DIÁRIO DO COMÉRCIO, mas com um estilo totalmente diferente.
A ideia vinha sendo gestada pelo fundador do DC anos antes do lançamento. Em viagens à Europa e aos Estados Unidos, José Costa conheceu um modelo de jornal assentado praticamente em publicidade, de circulação semanal e gratuita. Willy Muls, genro de Costa e diretor comercial do jornal, reforçou a ideia com produtos semelhantes que ele havia visto na Bélgica. Em Minas Gerais, não havia nada parecido. Em São Paulo, circulava o Shopping News, com grande tiragem.
Toda a diretoria do DIÁRIO DO COMÉRCIO foi reunida para pensar o novo produto. Uma das primeiras decisões foi que seria semanário, de distribuição gratuita, domiciliar, mas, em vez de ser só publicitário, teria também conteúdo editorial. O nome foi escolhido estrategicamente, já pensando no destaque das letras D e C, na grafia de Jornal De Casa, para que o leitor relacionasse o produto ao DIÁRIO DO COMÉRCIO.
Cada diretor cuidou do desenvolvimento do novo jornal em seu setor. O diretor de redação do DC, Luiz Carlos Motta Costa, e a jornalista Elma Heloisa de Almeida – que seria a primeira editora do futuro semanário – traçaram a estrutura editorial: abordagem jornalística da matéria, seções, assuntos, tipos de reportagem e o aspecto gráfico.
O Jornal de Casa foi lançado no dia 1º de agosto de 1976. Com 12 páginas e tiragem de 50 mil exemplares, a publicação trazia uma reportagem de capa sobre o apresentador Sílvio Santos, que também estreava seu programa naquele domingo na TV Itacolomi. A aceitação do jornal foi imediata e na primeira edição já se pagava.
“Feito para a mulher, para o homem, para os adolescentes e para as crianças. Um jornal para a família inteira. Linguagem simples, aparência descontraída e agradável”, definia José Costa ao apresentar a primeira edição aos leitores.
Um fato curioso sobre o Jornal de Casa é que a rede americana Sears Roebuck, com grandes lojas em São Paulo, se preparava para lançar uma filial em Belo Horizonte. Na capital paulista, a empresa já anunciava no “Shopping News”, e nos Estados Unidos também já havia esse hábito de publicar propagandas em jornais de distribuição gratuita. Como o Jornal de Casa começou a circular um mês antes da inauguração da loja da rede na capital mineira, acabou sendo uma aposta de publicidade da loja.
Dois meses após o lançamento, o jornal passava de 12 para 20 páginas, com um segundo caderno. Um ano depois, a tiragem já alcançava 80 mil exemplares. Em natais e outras datas comemorativas que aqueciam o comércio, o jornal chegava a sair com edições de até 64 páginas.
Na redação, a equipe inicial era comandada por Elma Heloisa de Almeida e tinha como repórteres os jornalistas Flamínio Fantini, Eustáquio Trindade Neto, Elizabeth Fleury e Maria Beatriz Afonso. Paulo Rios era diagramador e Liberato Pereira, fotógrafo.
Em 1977, o jornalista Guy de Almeida assumiu como coordenador editorial dos dois jornais e, antes de promover uma reformulação editorial no DIÁRIO DO COMÉRCIO, se ocupou de aprimorar o conteúdo do Jornal de Casa. No final da década de 1970, além dos anúncios, as seções e reportagens do “irmão caçula” do DC também eram ampliadas. Foram contratados os jornalistas Ângela Carrato, Luiz Carlos Bernardes, Dinorah Carmo e Fernando Assunção.
Em maio de 1979, veio a primeira reformulação gráfica do produto, promovida por Edson Ricardo, Valéria Quick e Paulo Rios.